Fé na Era do Ceticismo - Capítulo 2 - Por que Existe o Mal?

 


Capítulo 2

Se Deus Existe, Por que Ele Permite o Mal?

Talvez uma das perguntas mais desafiadoras seja: se Deus existe, por que Ele permitiria o mal? Essa questão, desde filósofos como Hume e Epicuro, permeia a mente humana desavisada. Mas a primeira reflexão deve ser: o fato de eu não saber por que Deus permite o mal não significa que não exista um motivo. Tampouco isso pode ser usado como um argumento válido contra o cristianismo.

O Exemplo de José: O Mal Pode Gerar o Bem

Um dos exemplos mais clássicos da Bíblia é o de José. Ele foi vendido cruelmente como escravo, mas, por causa disso, tornou-se governador do Egito. Com sua posição, honrou a Deus e salvou milhares de vidas, incluindo a de seus próprios irmãos. Quando ouvimos essa história, muitos se identificam, pois percebem que suas maiores lutas trouxeram alguns de seus maiores crescimentos. Mesmo sem se alegrarem nas dificuldades, tornaram-se mais humildes e empáticos.

Se conseguimos enxergar, mesmo de forma parcial, bons frutos advindos do sofrimento, por que não poderíamos crer que Deus vê algo muito maior no futuro?

O Argumento do Mal e o Ateísmo

C.S. Lewis apontou que o argumento do mal, paradoxalmente, é um problema maior para o ateísmo. Ele questionava: se achamos o mundo injusto e cruel, de onde tiramos esse parâmetro? Como podemos afirmar que há algo errado no mundo, se morte, dor e sofrimento são apenas mecanismos naturais de uma evolução cega e impessoal? Essas realidades só podem ser consideradas verdadeiramente ruins se existir um padrão objetivo de bondade.

Embora o cristianismo não forneça todas as respostas imediatas sobre o mal, ele se concentra na solução: Cristo veio para dar esperança e fornecer recursos para enfrentar o sofrimento.

O Sofrimento de Cristo: O Pior de Todos

Jesus sofreu mais na cruz do que qualquer discípulo ou mártir. Enquanto alguns encorajavam uns aos outros em meio à perseguição, Cristo demonstrou uma angústia única diante do que estava por vir. Para compreender isso, precisamos olhar para sua natureza.

Desde toda a eternidade, Jesus existiu em plena comunhão com o Pai, compartilhando de sua essência e amor. Entretanto, no drama da história, Ele enfrentou a separação do Pai. Sabemos, como seres humanos, que um dos piores sofrimentos é ser afastado daqueles que mais amamos. Se um amigo nos rejeita, sentimos dor; se um relacionamento acaba, a dor é maior; se os pais abandonam um filho, o sofrimento se torna devastador. Mas nada se compara à separação do próprio Deus.

No Getsêmani, ao contemplar essa ruptura, Jesus experimentou uma agonia intensa. Muitos mártires sofreram fisicamente tanto quanto Ele, mas nenhum teve sua alma tão profundamente abalada.

Deus Não é Indiferente ao Mal

Não podemos dizer que Deus ignora o sofrimento. Ele se importou tanto que executou um plano doloroso para carregar nossas dores e dar um fim ao sofrimento. Com a morte de Cristo, o mal e sua punição não têm mais domínio absoluto. O sofrimento que enfrentamos hoje é passageiro; a glória futura será eterna.

O Sofrimento e a Busca por Justiça

Já percebeu como pessoas que perdem entes queridos frequentemente se tornam ativistas para evitar que outros sofram da mesma forma? Algumas se dedicam mais à família, outras cumprem metas deixadas pelos que partiram. Isso acontece porque, no mínimo, cremos que o sofrimento pode levar a uma justiça maior, a um bem restaurador.

Outras religiões falam de um paraíso como simples compensação pelo mal vivido. O cristianismo, porém, ensina que o céu será um lugar de restauração, não apenas de consolo. O sofrimento passado não será apenas apagado, mas servirá para amplificar a felicidade futura.

Pense em um pesadelo no qual você perde alguém querido. Quando acorda, não sente apenas alívio por ser um sonho, mas passa a valorizar muito mais a presença da pessoa ao seu lado. O sofrimento potencializa a alegria.

Na volta de Cristo, tudo será restaurado. O que poderia ter sido, será. A tristeza será revertida e todo prazer será amplificado, pois um dia esteve perdido.

O Mal Será Totalmente Humilhado

Dostoievski escreveu que algo tão maravilhoso surgirá que não apenas explicará tudo, mas justificará toda a história. Isso não significa que o mal é desejável, pois continua sendo abominável. No entanto, Deus pode transformá-lo em bem.

No final, o mal não apenas será plenamente vencido e erradicado, mas sua própria existência servirá para glorificar ainda mais o bem. Essa será sua grande humilhação.



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