Capitulo 3
O Cristianismo e a Verdade Absoluta
Muitos têm dito que o cristianismo é intolerante ao afirmar uma única verdade. Isso soa como algo que exclui todas as outras culturas e impede a liberdade e o respeito às crenças, ou então algo que sufoca a criatividade de expressão do indivíduo, como uma camisa de força.
A Ilusão da Liberdade sem Propósito
Em Eu, Robô, Sonny afirma que, depois de ter cumprido seus propósitos para os quais foi criado, não sabe o que fazer. Ele é instruído a criar seu próprio caminho, e isso seria ser livre. Nessa visão, liberdade seria a ausência de um propósito supremo, não encontrar um caminho por si próprio, mas criá-lo.
Pesquisas têm mostrado que a saúde mental exige que trilhemos um caminho maior do que nossas invenções, ou seja, algo mais importante do que apenas nós mesmos e nossos desejos passageiros. A ideia de que surgimos ao acaso como primatas superiores influencia essa ideologia de que não temos propósito; o máximo que podemos fazer é inventar algo para ocupar nossas vidas.
A Negação da Verdade e Seu Paradoxo
Foucault, aluno de Nietzsche, influenciou a sociedade contra o pensamento de uma verdade absoluta. Para eles, tudo são criações para alcançar nossos próprios propósitos, ou seja, formas de dominar e ter poder (fazer com que os outros façam o que queremos). Entretanto, se toda alegação de verdade é uma tentativa de controle, então essa afirmação também é um exercício de poder. Se todas as afirmações são ilusões convenientes para consolo, essa também o é, e era para Nietzsche.
Foucault afirmava essa "verdade" mesmo negando a existência da categoria verdade. Chesterton considera isso ridículo, pois toda revolução (tentativa de mudança) implica um objetivo que seria verdadeiramente melhor. Não se pode negar toda objetividade.
O Mito da Comunidade Totalmente Inclusiva
A ideia de que, em uma sociedade liberal, não devemos misturar preferências morais é algo simplista. Afinal, os próprios conceitos de liberdade individual, compromisso com a justiça e a razão são estranhos para muitas culturas. Ou seja, uma comunidade totalmente inclusiva é uma ilusão, pois toda comunidade tem em comum crenças que obrigatoriamente criam barreiras.
Você só tem uma sociedade quando partilha valores iguais. Não é possível considerar uma comunidade LGBT inclusiva onde um membro seja contrário às práticas homossexuais. Sociedades são grupos com identidade coletiva. Sem fronteiras, saberemos apenas contra o que lutamos, mas não pelo que lutamos.
A Igreja e o Verdadeiro Amor ao Próximo
Mas então, como saber se uma comunidade é opressora ou solidária às diferenças? Basta ver qual comunidade defende o amor e o respeito mútuo ao diferente. Claramente, é a igreja cristã. Devemos, sim, criticar a igreja que não tem gentileza para com o diferente, mas não devemos criticá-la por defender padrões para admissão de membros ou por aconselhar a vida, pois toda comunidade age assim.
O Cristianismo e Sua Capacidade de Transformação Cultural
Por que o cristianismo cresce tanto em culturas africanas, chinesas e outras? Por causa de sua traduzibilidade. O Alcorão não pode ser traduzido ou adaptado; ele sempre permanece em árabe. Enquanto isso, o cristianismo se inicia em Pentecostes com a tradução para todos os povos e culturas. A Bíblia tem sido traduzida e levada a todo tipo de povo.
O cristianismo tornou os africanos e chineses povos renovados e não europeus recriados. Enquanto o cristianismo transformou a forma de ver o espiritual dessas culturas, o secularismo, pelo contrário, zomba delas e as faz se tornarem ocidentalizadas. O cristianismo sublinha uma cultura onde o Salvador se senta à mesa de pecadores e pessoas excluídas.
Caso contrário, expliquem: por que o cristianismo, mais do que qualquer outra religião do mundo, foi capaz de se infiltrar em tantas culturas radicalmente distintas? Enquanto o Islã se impôs apenas pela força e domínio de território? Esse é o cerne de algumas pregações de Paulo. O cristianismo possui seus pontos absolutos, mas não precisamos nos tornar judeus para vivê-lo. Podemos expressar a vida cristã restaurando todas as áreas.
A Verdadeira Liberdade e Suas Restrições
Kant foi um dos responsáveis pela transformação filosófica ao afirmar que somos seres que confiam e dotam poder à sua razão, e não a autoridades e tradições. Hoje isso é visto como indispensável: acreditamos absolutamente que devemos criar nossos padrões morais e não respeitar nenhum pré-estabelecido.
Entretanto, liberdade não pode ser definida como ausência de restrição. Pelo contrário, limites acabam sendo caminhos para a liberdade. Por exemplo, se você tem talento musical, precisa abrir mão de tempo para estudar, abdicar da liberdade de escolher outras atividades para se dedicar e desenvolver sua habilidade. Assim, você se dedica abrindo mão de uma liberdade para alcançar outra maior.
Essas escolhas apenas nos libertam quando se encaixam na realidade de nossa natureza. Um rapaz de 1,60m com 56kg que treine a vida inteira querendo ser jogador de futebol pode passar a vida toda se sacrificando para dar murro em ponta de faca. Pessoas buscam empregos com altos salários, mas não fazem nada que seja realmente libertador para a vida humana, pois o dinheiro é uma ferramenta, não um fim em si mesmo.
Um peixe só é verdadeiramente livre quando limitado pela água. Um peixe na grama morrerá por não ter respeitado sua natureza.
Amor e a Verdadeira Liberdade
Sendo assim, a verdadeira liberdade está relacionada com a descoberta de restrições libertadoras, e não com a ausência de limites. Escolhas que se encaixam na realidade abrem o leque de nossas capacidades, causando felicidade e realização profunda. Se nós só crescemos fisicamente e intelectualmente mediante restrições, por que humanamente e moralmente seria diferente?
Pessoas tendem a dizer: “Todo mundo precisa definir o que é certo ou errado para si mesmo.” Mas existem pessoas fazendo o que acham correto que todos nós — inclusive quem diz isso — reprovamos moralmente. Isso significa que sabemos que existem padrões de certo e errado que são válidos, independentemente do que quem os pratica pensa.
O amor é o melhor exemplo disso. Abrimos mão de outras liberdades para alcançar uma intimidade maior. Se você deseja as liberdades do amor, como segurança, realização e dignidade, precisa abdicar de liberdades individuais menores. O amor é algo maior, que limita nossas escolhas individuais para alcançar escolhas superiores. É por isso que nos sentimos mais vivos quando experimentamos um relacionamento afetivo verdadeiro.
O Exemplo de Cristo e o Chamado à Vida Maior
O que nos motiva é o amor de Cristo. Assim como em um casamento, em que um precisa se sujeitar ao outro para criar o amor verdadeiro, Cristo se sujeitou. Ele se fez carne por nós, sacrificando-se e deixando sua glória para servir. Dessa forma, nós podemos e devemos fazer o mesmo pelo próximo.
Em um relacionamento, alguns podem pensar que estamos sendo tolos ao desejar abrir mão de tudo para servir ao outro. Mas a verdade é que nos sentimos nas nuvens, pois abrir mão de certas liberdades nos permite alcançar outras, ainda maiores. Assim como Cristo, não temos medo de abrir mão de nossa individualidade ou de nossa vida, pois sabemos que, ao fazê-lo, encontraremos uma vida maior.
Palavras-chave: cristianismo, verdade absoluta, liberdade e propósito, Foucault e Nietzsche, comunidade inclusiva, crescimento do cristianismo, traduzibilidade da Bíblia, secularismo e cultura, liberdade e restrições, amor e liberdade, Cristo e sacrifício, moralidade e verdade.
0 Comentários