Em Deuteronômio, a mulher abusada seria obrigada a casar com o estuprador?
Algumas pessoas afirmam que Deuteronômio 22 ensina que um homem que estuprasse uma mulher seria "punido" ao ser forçado a se casar com a vítima, o que seria uma injustiça cruel contra a mulher abusada. De fato, essa interpretação tornaria a punição extremamente injusta. No entanto, vamos examinar o texto sagrado com atenção.
Primeiramente, em algumas versões da Bíblia, a palavra utilizada no texto foi traduzida de forma errada, pois o verbo original não significa "estuprar" ou "forçar". Algumas versões traduzem da seguinte maneira:
"Quando um homem achar uma moça virgem, que não for desposada, e pegar nela, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, porquanto a humilhou, lhe será por mulher; não a poderá despedir em todos os seus dias." (Deuteronômio 22:28-29, ARC)
Perceba que, nessa versão, não se fala em "forçar". O texto descreve um homem que teve uma relação casual com a moça e, por isso, agora precisa ampará-la. Essa interpretação faz mais sentido, pois, se ele a tivesse violentado, a punição seria a morte, como demonstrado em outras passagens.
Como existem diferenças nas traduções, é melhor analisarmos outro versículo sobre o mesmo tema para verificar qual é mais válido. No caso de Êxodo, o sentido é mais claro em qualquer versão:
"Se alguém seduzir uma virgem que ainda não foi prometida em casamento e tiver relações com ela, pagará seu dote e a tomará por mulher. Se o pai dela definitivamente não quiser dar-lhe a moça em casamento, aquele que a seduziu pagará em dinheiro conforme o dote das virgens." (Êxodo 22:16-17, NAA)
Não se fala em "forçar", mas sim em "seduzir". Ou seja, a questão aqui trata de relações consensuais, e não de abuso. O abuso, sim, era punido com a morte.
Em Daniel 13 - texto presente somente na Bíblia católica - Susana, mulher de Joaquim, passeia no jardim e é desejada por dois anciãos. Ela se opõe e eles a difamam, dizendo que ela teria se deitado com um jovem. Por isso, é condenada à morte. Contudo, o jovem Daniel revela o plano dos anciãos, e o tribunal descobre que, na verdade, ela tinha sido caluniada. Dessa forma, os dois anciãos são mortos. Ou seja, os homens que difamaram é que foram punidos.
Dessa maneira, os versículos mostram que, quando um casal era flagrado tendo relações antes do casamento, o homem deveria assumir suas responsabilidades e casar com a mulher. Esse texto, na verdade, preserva a dignidade da mulher, garantindo que ela não fosse abandonada pelo homem, uma vez que a perda da virgindade era uma vergonha para a mulher e prejudicava seu próximo relacionamento. Nesse caso, o homem deveria casar, e isso evitava casamentos falidos, pois, quando um homem tentava algo com alguma moça, já teria que considerar os planos de se casar com ela, dando à mulher honra.
Essa ideia não é tão estranha, pois ainda hoje existem situações em que, quando uma moça é menor de idade, durante a adolescência, a família pode exigir que o rapaz se case com ela para reparar o dano causado e não deixar a menina sem direitos.
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