Capítulo 10 - O que Adoramos?
Sabemos que existe algo errado no mundo, entretanto, não nos cabe o papel de vítimas. Afinal, somos pecadores — nós somos os culpados. A mudança precisa vir de nós, não da lei.
Muitos rejeitam o termo "pecado" e fogem dele. Quando pensamos nos termos médicos, estamos à mercê das doenças — então, a culpa seria química. Nos termos jurídicos, a culpa seria das leis. Mas nós dizemos que a verdadeira culpa está em um relacionamento arruinado com Deus. Os pecados não passam de tentativas vazias de preencher o espaço deixado por Ele.
Quando adotamos a ideia de que tudo em nossa vida é culpa das injustiças, das traições ou dos outros, surge o pensamento de que precisamos tomar o controle e acreditar em nós mesmos. No entanto, enquanto não reconhecermos nossas imperfeições, jamais seremos capazes de corrigir nossas falhas.
O pecado é, desesperadamente, negar-se a ser quem se é em Deus. Todos sabemos que temos importância, mas fomos criados para construir nossa identidade como criaturas de Deus. Sempre que buscamos nosso valor fora dessa identidade, estamos tentando ser valorizados sem Deus — e é por isso que pecamos. Rejeitamos a instrução de Deus e as Suas bênçãos. Isso é dar mais valor a outras coisas do que à nossa relação com Ele.
Filmes como Rocky demonstram bem essa busca, onde sacrificamos tudo para que certas vitórias nos deem algum valor. Queremos tanto nos sentir valorizados que qualquer coisa capaz de nos dar essa identidade acaba se tornando um objeto de culto e devoção: carreira, dinheiro, status, beleza, sabedoria, um cônjuge bonito...
Mas nenhum relacionamento humano ou objeto pode carregar essa responsabilidade. Quando elevamos o outro a esse lugar, estamos apenas tentando fugir da nossa própria nulidade. Usamos o outro e exigimos respostas que nenhum ser humano pode dar.
Nas culturas tradicionais, o senso de valor surge pelo cumprimento de deveres sociais. Já em culturas individualistas, como a nossa, buscamos valor no talento, na posição social, na aprovação humana, na autodisciplina... Tudo isso gera problemas.
Veja alguns exemplos:
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Centrar a vida em um relacionamento: cria dependência emocional, ciúmes, controle.
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Centrar nos filhos e na família: sufocamos os outros e os maltratamos quando querem fazer suas próprias escolhas.
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Centrar no trabalho: nos tornamos pessoas chatas, vazias, afastamos amigos e família, e podemos cair em depressão se perdermos o emprego.
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Centrar no dinheiro: nos tornamos gananciosos, egoístas, ansiosos e preocupados em perder o que temos.
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Centrar no conforto: criamos fugas, evitamos a vida real e vivemos em um mundo ilusório.
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Centrar na aprovação dos outros: seremos amigos inúteis, com medo de falar verdades, frágeis diante de críticas e facilmente perderemos relações por causa do ego.
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Centrar em causas nobres: nos tornamos legalistas, dividimos o mundo entre bons e maus, demonizamos os outros, caímos no farisaísmo egocêntrico e estamos sempre em busca de um inimigo, até quando ele não existe.
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Centrar na religião: podemos nos tornar orgulhosos e arrogantes se cumprirmos nossos próprios padrões, ou seremos esmagados pela culpa se não conseguirmos.
Sempre que perdemos uma dessas coisas por falhas dos outros, caímos na amargura, na descrença e paramos de confiar e construir. Se for por nossa culpa, passamos a nos odiar e desprezar. Não há saída.
Mesmo que você diga: "Não vou depender minha felicidade de nada", na verdade, você estará dependente da sua liberdade e independência individual. Sempre que isso for ameaçado, você sentirá o mesmo: começará a culpar a família e tudo o que você acha que limitou sua liberdade.
Quando nossos amores estão desordenados, nossa vida se assemelha à dependência química. Negamos o grau de controle que nossos "deuses substitutos" exercem sobre nós.
Se nosso objetivo supremo for a família, tenderemos a nos importar pouco com a família dos outros. Se for o bem da nação ou da nossa tribo, nos tornaremos racistas e nacionalistas. Se for a nossa felicidade individual, colocaremos nossos interesses sempre acima dos dos outros.
Quando nossa identidade vem dessas causas, acabamos desprezando tudo e todos que se opõem a elas. Somente se Deus for o nosso sumo Bem, nosso coração se abrirá para todas as famílias, pessoas, raças e classes.
A verdadeira guerra cultural acontece dentro do nosso coração, devastado por desejos que nos fazem sentir superiores e que nos levam a excluir os outros.
Muitas vezes não conseguimos perdoar ou seguir em frente, pois algo prejudicou aquilo que idolatrávamos — seja o trabalho, o ego, a imagem. Perdoar não significa ignorar ou deixar de confrontar, mas significa desejar a restauração e seguir adiante.
No fim, só temos duas opções: Deus ou a idolatria. Se negarmos um, automaticamente adotaremos o outro.
Como é comum que muitos de nós nunca consigam conquistar tudo o que sonham, é fácil viver na ilusão de que, se tivéssemos conseguido, seríamos finalmente felizes. Uma colunista americana escreveu que todos os famosos que ela conheceu tornaram-se mais irritados, maníacos ou instáveis depois da fama. Por quê? Porque aquilo que eles imaginavam que traria felicidade finalmente aconteceu, mas, no dia seguinte, eles acordaram e perceberam que continuavam sendo as mesmas pessoas. Essa decepção os deixou ainda mais insuportáveis.
Os mais desanimados são aqueles que depositaram fé excessiva no progresso da civilização — seja na lei, no dinheiro, nos remédios. Eles procuram culpados: os poluidores, os ricos, os governantes. Sempre há alguém que "estragou tudo".
O cristão, porém, está habituado à ideia de que o maior problema é o profundo desajuste interior da personalidade humana.
Nos outros relatos de criação, fora Gênesis, o mundo surge de guerras violentas — raramente é algo deliberado ou planejado. Mas, no relato de Gênesis, Deus cria e olha para a criação dizendo: "Isso é bom, levem isso adiante."
O termo "shalom", para o hebreu, não significa apenas ausência de guerra, mas uma coesão perfeita, um estado feliz e próspero. Porém, quando decidimos não mais servir a Deus, todo o mundo criado se tornou imperfeito.
Deus deseja todos os nossos desejos — não apenas aqueles que consideramos ruins, mas até mesmo os que parecem bons. Ele quer nos fazer novos, servos dEle. Precisamos parar de tentar buscar a nós mesmos através da fé nessas outras coisas.
É um erro acreditar que, ao centrar nossa vida no dinheiro, no status ou no prazer, nos tornaremos mais felizes, mais humildes ou mais pacientes. Se você não viver para Jesus, vai viver por outra coisa.
Se Jesus for o centro da sua vida, Ele te perdoará quando você errar. Somente Ele pode te dar um valor imutável, independente, inabalável e transformador. Nada pode oferecer a segurança que Ele oferece. Ele é o único Senhor que, se você O receber, cumprirá tudo o que promete. E, se você O desapontar, Ele ainda assim te perdoará — para sempre.
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