Mitos Não São Religião - Como Entender as Diferenças entre Religiões, Mitos e Folclores

 


Tipos Diferentes de Divinização


É muito importante não confundirmos os diferentes tipos de divinização. Essa palavra, por si só, é limitada e não expressa com precisão as variadas formas como isso ocorre. Por isso, precisamos de um olhar mais atento e um estudo mais apurado.

Algumas pessoas afirmam que Jesus foi adorado da mesma forma que diversas lideranças da época, citando até mesmo o culto ao imperador. Mas é fundamental perceber as diferenças entre essas idolatrias. O culto ao imperador exigia sacrifícios e honrarias — um louvor à autoridade e ao poder deles —, porém, os mais instruídos não confiavam sua vida eterna a esses imperadores, tampouco acreditavam que fossem deuses criadores. Era uma reverência política e social, não um culto a um criador do universo.

O paganismo grego, por sua vez, representa outro tipo de divinização. Pessoas e sacerdotes buscavam resolver problemas pedindo auxílio a seres que eles acreditavam ter algum poder ou influência sobre suas vidas. Cristo, no entanto, não foi adorado da mesma forma que esses outros foram. Ele foi elevado e conectado diretamente ao Deus verdadeiro, não a uma idolatria comum do Oriente.

Essa análise é essencial para compreendermos os conceitos teológicos daquele período. As divindades pagãs eram completamente diferentes do conceito de um Deus monoteísta. E não era só uma questão de quantidade — era sobre essência, sobre natureza. É justamente por isso que muitos reis e guerreiros da antiguidade desafiavam deuses e lutavam contra eles, como se fosse possível vencê-los. Era possível pensar assim porque o conceito que eles tinham de "deus" era de um ser limitado, restrito ao tempo e ao espaço, sem poder absoluto sobre a vida, a morte ou a eternidade.

As mitologias desses povos falavam de heróis, filhos de deuses que batalhavam contra esses próprios deuses, porque essas divindades eram quase humanas — poderosas, mas vulneráveis. Em algumas crenças, bastava que um homem acumulasse muito poder para superar um deus. Foi assim que surgiram histórias como a da Torre de Babel: pensaram, ingenuamente, que poderiam alcançar os céus e desafiar o próprio Criador. Eles reduziam e subestimavam Deus, tratando-O como se fosse apenas mais um ser poderoso, um entre tantos.

Os judeus, que receberam uma revelação completamente diferente e carregavam um conceito elevado de Deus, jamais teriam atribuído a Jesus qualquer peso de divindade se Ele não tivesse apresentado credenciais reais e contundentes para tal. Os povos pagãos ao redor cometiam esse erro porque o processo de divinização em suas culturas era muito mais flexível, menos exigente e com menor responsabilidade. Já o povo hebreu sabia das implicações profundas de reconhecer alguém como divino. Eles conheciam e reverenciavam o Deus verdadeiro, um Deus que fez questão de subjugar deuses por onde passou — não para competir, mas para demonstrar que Ele está num nível absolutamente superior.

Nas religiões orientais, essa diferença é ainda mais evidente. As religiões como o Hinduísmo, o Xintoísmo, o Budismo e outras, não se preocupam se as histórias dos deuses ou dos personagens realmente aconteceram. Para eles, tudo é simbólico, tudo é ilustração. São arquétipos e poemas que representam realidades invisíveis.

Quando, por exemplo, o Confucionismo afirma que o imperador do Japão é uma divindade, ou quando o Egito dizia o mesmo sobre o Faraó, não estavam afirmando que essas pessoas possuíam superpoderes ou eram criadores do universo. Era uma forma de dizer que esses líderes tinham uma missão espiritual, que eram símbolos vivos da ordem e da transcendência para o povo.

Isso também aparece nas artes marciais orientais, quando dizem que "tudo é kung fu". O que querem dizer é que tudo faz parte de um padrão universal, tudo está conectado. Um movimento de batalha pode ser inspirado no movimento da cobra, e a postura de um tigre pode orientar como reagir no trabalho ou na família. Eles buscam harmonia nos padrões da natureza, nos animais, nas árvores, no céu, em tudo.

Esses povos não cultuam personalidades, mas energias espirituais que, segundo eles, se manifestam nas coisas e nos seres. Os "deuses" dessas culturas não são criadores supremos, são arquétipos, metáforas para realidades espirituais e humanas. E é aqui que mora o erro comum: muitas pessoas tentam usar essas comparações para desmerecer as religiões verdadeiras, como se tudo fosse a mesma coisa.

Mas não é. Quando colocam fábulas, folclores e deuses pagãos no mesmo nível que o conceito cristão de Deus, estão apenas misturando palavras por pobreza de vocabulário. Só compartilham o nome, mas os significados são totalmente diferentes. Quando alguém compara o Deus cristão com essas figuras mitológicas, está tratando coisas completamente distintas como se fossem iguais.

Por isso, sempre que analisarmos outras culturas e seus conceitos de divindade, precisamos discernir algumas questões fundamentais:

  1. O que significa "Deus" naquela cultura?
    Para o cristão, Deus é o Criador supremo, único, eterno e imutável. Para outros povos, "deus" pode ser qualquer ser espiritual poderoso, ou até um humano que conquistou tal status. Essa distinção resolve muitos equívocos. Para o cristão, Deus é absoluto, e o que Ele ordena é bom, mesmo quando parece estranho aos nossos olhos. Já para outras culturas, "deus" pode ser apenas um título, algo transitório ou atribuível a diferentes seres.

  2. Como eles enxergam esse Deus?
    É um Deus pessoal, com vontades, escolhas e emoções? Ou é impessoal, apenas uma energia cósmica? Isso muda tudo na compreensão sobre moralidade, propósito e significado da vida.

  3. O que é mitologia?
    Mitologia não é o mesmo que religião. São poemas, contos e ilustrações simbólicas que explicam conceitos abstratos de maneira poética. Na cultura antiga, mitos serviam para inspirar, para ensinar e para preservar tradições. Hoje, os mitos continuam vivos, mas se apresentam de outras formas: no cinema, por exemplo. Os heróis modernos, como Rambo ou personagens de séries como Peaky Blinders, ocupam o espaço simbólico que antes era dos antigos deuses da guerra. Mas isso não deve ser confundido com fé ou com esperança espiritual.

  4. Divinização de pessoas.
    Muitas culturas deram títulos divinos a reis, ancestrais e heróis. Não significava que eles eram deuses criadores, mas sim que possuíam um status superior, uma espécie de cargo espiritual.

  5. O que é folclore?
    O folclore são histórias locais, muitas vezes contadas para entreter, explicar peculiaridades regionais ou ensinar lições de forma simples. São como as lendas da Kitsune no Japão ou do boto cor-de-rosa no Brasil. Essas histórias fazem parte da tradição, mas ninguém baseia sua fé ou sua vida nelas.

  6. Fábulas.
    São narrativas com uma moral, muitas vezes usadas para ironizar, criticar ou ensinar de forma leve. Algumas fábulas viraram tradições simplesmente porque foram contadas e recontadas, ganhando importância cultural.

  7. Narrativas de acontecimentos desconhecidos.
    Aqui entram histórias sobre gigantes, grifos, serpentes voadoras, sereias e tantos outros seres que aparecem em relatos pelo mundo. Nem todas essas histórias devem ser descartadas como invenção. Algumas podem ter origem em animais extintos, criaturas raras ou exageros populares. Devemos analisar a origem das descrições e como diferentes culturas se referem a elas.

Todos esses sete tipos são extremamente importantes para que possamos entender que nem tudo que parece religião realmente é. Muita gente pensa que os japoneses realmente adoram uma kitsune, ou que os antigos acreditavam cegamente nas lendas locais como base de sua fé. Isso é um erro.

Não devemos colocar no mesmo pacote a fé cristã e esses diferentes conceitos culturais. É um equívoco gigantesco achar que a fé é enfraquecida porque, no passado, existiam mitos e lendas. Muitas dessas crenças não eram religiosas, mas sim linguagens simbólicas.

Por que isso é importante? Por dois motivos essenciais. Primeiro, porque muitas pessoas tendem a confundir essas questões e usam isso como argumento para tentar descredibilizar a fé cristã. Alegam que, no passado, os povos eram supersticiosos e adoravam qualquer coisa como se fosse um deus: criaturas folclóricas, fenômenos da natureza, líderes políticos e até objetos. Segundo eles, os antigos não tinham critérios e simplesmente atribuíam divindade a tudo o que não compreendiam, como se a crença em Deus fosse apenas uma forma primitiva de explicar o que hoje a ciência explica. Essa ideia parte de uma falsa premissa: a de que os povos antigos realmente acreditavam em todas as narrativas mitológicas de forma literal, como se todas fossem verdades inquestionáveis e veneradas com a mesma seriedade com que cristãos e muçulmanos adoram ao Deus Criador.

Esse equívoco leva muitos a desconsiderar as narrativas históricas antigas, como se fossem apenas invenções ou exageros culturais, fruto de uma ignorância generalizada. Eles também supõem, erroneamente, que a importância que damos a Deus hoje seria uma evolução recente da humanidade, algo que os antigos não possuíam, como se, no passado, Deus fosse apenas "mais um mito entre tantos". Porém, isso é simplesmente mentira.

Os antigos não tratavam suas figuras folclóricas, lendas e divindades locais da mesma forma que o cristão e o muçulmano tratam o Deus supremo. Mesmo que a palavra "Deus" fosse usada, os conceitos eram totalmente diferentes. O Deus dos cristãos não é uma categoria aberta ou um cargo que pode ser ocupado; Ele é o único, absoluto e necessário para a existência de todas as coisas. Nas mitologias e folclores, os chamados "deuses" eram muitas vezes seres locais, limitados, falhos e sujeitos ao tempo e ao destino.

Confundir esses conceitos prejudica profundamente o entendimento sobre quem é Deus e por que tudo depende d'Ele. Quando colocamos tudo "no mesmo saco", como se todas as crenças fossem iguais ou igualmente irrelevantes, cometemos um erro grosseiro de análise histórica, cultural e filosófica. É fundamental compreender que o Deus bíblico nunca foi apresentado como um entre muitos, mas como o único Deus real e supremo, completamente distinto dos deuses fabricados por culturas locais e das narrativas simbólicas criadas para explicar costumes e valores.

Não atribua à conta da fé os erros e as loucuras de crenças e histórias que não tinham o mesmo objetivo de uma grande religião.


Palavras-chave:
divinização, idolatria antiga, conceito de Deus, mitologia, religião comparada, folclore, fábulas, paganismo, deuses orientais, cultura cristã, filosofia cristã, espiritualidade, simbologia religiosa, diferenças religiosas, crenças populares, tradição cultural, teologia histórica, análise cultural, história das religiões.

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