Neymar, Você, Deus e os Seres Integrais

 


Neymar, Você, Deus e os Seres Integrais


Essa semana ouvi um rapaz dando uma entrevista e ele disse: “Fico muito chateado quando os jornais criticam o Neymar. Ele é a pessoa mais humilde e legal que já conheci.” Isso me fez perceber uma falha de compreensão que prejudica não só como olhamos para Neymar, mas como enxergamos qualquer pessoa — e, inclusive, como nos olhamos. Quando um jornal, ou qualquer pessoa, faz uma crítica ao Neymar, não está atacando-o como ser humano completo, total, integral. Está falando sobre ele como atleta de futebol. O problema é que, para a família e os amigos, Neymar nunca será apenas o jogador de futebol. Para eles, Neymar é o pai, o amigo, o irmão, o filho. Eles olham o conjunto, eles olham o todo. Eles não conseguem enxergar somente o atleta que foi a uma festa, mas veem o irmão que foi à festa, o bom pai que esteve lá, o amigo que vive aquilo. Para eles, Neymar não é apenas um jogador de futebol.

Mas precisamos entender que nem todo mundo olha assim. É claro que algumas pessoas ultrapassam os limites e destilam ódio gratuito, espalham maldade, principalmente na internet. Mas uma crítica simples, feita ao profissional Neymar, não está errada — ela está apenas apontando algo sobre uma parte da vida dele, não sobre ele inteiro. Se alguém critica seu cabelo, seu nariz, você não deveria se sentir humilhado ou destruído, porque você não é apenas um cabelo, você não é apenas um nariz. Muitas zombarias tentam te atacar como se fossem direcionadas a quem você é, mas na prática, estão apenas falando sobre uma parte sua — e muitas vezes, nem é uma parte essencial.

As críticas que recebemos geralmente partem do tipo de relação que as pessoas têm conosco. Uma crítica ao meu temperamento, por exemplo, deveria ser algo que eu recebo com naturalidade, afinal, o importante é sempre olhar o contexto completo, é somar os erros e as qualidades, é reconhecer quem eu sou de forma ampla. Se alguém disser que sou um mau profissional, ok, eu preciso melhorar, mas isso não me resume a um lixo. Eu posso ser um mau profissional e, ao mesmo tempo, um bom pai, um bom amigo, um bom cristão. Isso não diminui meu valor como pessoa.

É justamente por isso que, quando assumimos a identidade de Cristo, devemos rejeitar os nossos pecados — porque eles não representam mais quem somos, eles não honram o corpo do Senhor. Mas, ao mesmo tempo, nunca devemos viver desanimados, porque agora carregamos algo infinitamente mais honroso e glorioso — a identidade de filhos de Deus. Uma pessoa rica, por exemplo, pode ter problemas morais terríveis, e isso seria como uma casa destruída com uma Ferrari na garagem. Já um cristão que recebeu a identidade de Cristo é como uma mansão de ouro, onde pequenas rachaduras precisam ser corrigidas, mas que, mesmo assim, continuam sendo uma mansão. Uma falha, um pecado, não é suficiente para anular o que Cristo fez e o que Ele representa em nós.

Vivemos numa sociedade técnica que absolutiza a carreira e o sucesso. Quando alguém pergunta: “Quem é você?”, muitos respondem com a profissão. Quem é o seu novo namorado? Ah, ele é engenheiro. O que você faz? Ah, eu sou pedreiro. Mas a realidade é que a nossa profissão é apenas uma parte de quem somos. O gari, que muitas vezes não recebe reconhecimento no seu trabalho, pode ser um herói dentro da própria casa. Para o filho, ele é tudo. Como amigo, pode influenciar e transformar vidas. Como cristão, pode liderar e inspirar. Quem se sente superior por ter uma grande carreira, na verdade, demonstra pobreza como pessoa, pois se apoia numa única face da vida e despreza todo o restante. Quem faz isso deixa de ser um ser integral, passa a ser fragmentado, dividido, trata a própria vida como pedaços soltos e não como uma unidade.

Somos chamados a sermos seres integrais. Eu não cometo certos pecados porque entendo que não sou mais um ser biológico passageiro — eu sou um ser eterno. Deus é integral. É por isso que Ele não muda, não pode mentir, não pode deixar de ser Deus, porque Ele sempre age em harmonia com tudo o que Ele é. Deus não age hoje de um jeito e amanhã de outro. Ele não é contraditório. Ele é total, inteiro, completo. Nós, por outro lado, vivemos como seres inconstantes. Vivemos como crianças que só pensam no agora. Muitas vezes, caímos em pecados sexuais ou imoralidades porque não consideramos que o nosso "eu do futuro" também é parte de nós. Agimos como se nossas outras fraquezas, nossos outros papéis (profissional, familiar, social) fossem desconectados das nossas decisões íntimas e públicas. Mas tudo está conectado.

Eu posso, sim, criticar um gerente de loja que me tratou mal. “Ah, mas ele é um bom pai”, alguém poderia dizer. E eu responderia: Sim, mas minha crítica não é sobre ele como pai, mas sobre a função que ele exerce quando se relaciona comigo como cliente. Isso não significa que devo desrespeitá-lo como ser humano, como irmão em Cristo ou como imagem e semelhança de Deus. Até as nossas críticas precisam respeitar essa visão integral, mas isso não significa que as críticas devem ser anuladas se ele comete erros no papel que tem diante de mim.

Um fã normalmente odeia quando criticam o artista que ele admira, porque a relação dele já não é só como consumidor da arte — ele já criou um vínculo emocional, se sente amigo, se sente parte da vida do artista. Mas os outros que não têm essa mesma relação criticam apenas a função profissional do artista, e isso não significa que estão criticando o ser humano como um todo.

Um médico não é mais importante que uma empregada doméstica. A empregada é mãe, é filha, é amiga. Uma mãe é muito mais importante para seu filho do que qualquer médico. Isso deveria nos tornar mais humildes, nos lembrar de que as críticas feitas a nós são sempre sobre uma parte da nossa vida. E, da mesma forma, os elogios que recebemos também são apenas sobre um momento, uma função, uma fração da nossa história. Eles não devem nos envaidecer.

Não fique triste se zombarem do seu cabelo. Você não é um cabelo. O valor do outro ser humano não está na profissão ou em uma falha, mas no pacote completo — e nesse pacote, a imagem de Deus está presente. Você não joga fora um saco de lixo que contém ouro, porque, mesmo que o saco seja lixo, há ouro dentro dele. Precisamos ser humildes porque, por mais importantes que possamos ser em algo, somos limitados no todo, somos pecadores e completamente dependentes da identidade que recebemos de Deus.

Há uma frase que me marcou muito: "Não é o insulto de outra pessoa que lhe causa dor. É a parte da sua mente que concorda com o insulto que causa dor." Isso é forte. Precisamos lembrar que a opinião de Deus sobre nós é a única que realmente importa. Por isso, mantenha suas conversas com Deus em dia, apresente seus medos, suas crises, suas inseguranças diante d’Ele. Quando você combina com Deus como deve viver, o que precisa mudar, como deve se posicionar, você não sucumbe mais às provocações do dia a dia. Nenhuma palavra de um ser humano será capaz de te derrubar, porque você já conversou sobre isso com Deus e já sabe qual é a opinião d’Ele sobre você — e, no fim, essa é a única opinião que realmente importa.


Palavras-chave: Neymar, identidade cristã, ser integral, críticas construtivas, valor humano, autoestima cristã, propósito de vida, sociedade técnica, profissão e identidade, pecado e integridade, imagem de Deus, maturidade espiritual, orgulho e humildade, valor do ser humano, relação entre fé e vida profissional, autoconhecimento cristão

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