Quem É a Vida? Reflexões Cristãs Sobre Gêmeos Siameses, Quimerismo e Outras Anomalias"

                            

Uma Reflexão Cristã Sobre Casos Genéticos Complexos


Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre isso. Talvez se espante ao saber que existem questões genéticas e situações tão raras e complexas que podem nos deixar sem chão. Algumas dessas situações, quando descobertas, podem gerar dúvidas profundas, crises de fé e até sentimentos de desconforto sobre a própria existência. Eu já vi pessoas sinceras se perguntando: “Como isso pode acontecer? Onde está Deus nisso? Como podemos entender o que é a vida e quem, de fato, é o indivíduo em certos casos?”

Para algumas pessoas, esses dilemas viram barreiras de fé. Para outras, servem como combustível para abandonar a confiança em Deus ou até para atacar as doutrinas cristãs, como se tais situações fossem "refutações óbvias" da nossa crença. Eu já ouvi isso de ateus: eles olham para esses casos raros de nascimento e dizem: “Está vendo? Isso prova que o cristianismo não faz sentido.” São exemplos como gêmeos siameses onde um quase absorveu o outro, bebês que nascem com partes de outro bebê já falecido, crianças com doenças gravíssimas, ou ainda situações como o quimerismo — quando dois seres humanos acabam se fundindo em um só corpo.

Quando nos deparamos com perguntas como “Quem ali é a vida? Quem é o indivíduo? De quem é a alma? Por que Deus permitiu isso?” — muita gente se sente desorientada. Mesmo cristãos sinceros, que amam a Deus, às vezes não sabem como lidar com isso. Há quem comece a questionar: “Será que Deus realmente está no controle? Será que Ele planejou tudo isso? Por que Ele permite que um bebê seja formado para depois ser absorvido? Por que Ele permite deformações e doenças genéticas tão dolorosas?”

Eu sei, são perguntas difíceis. São assuntos que mexem com a gente, porque envolvem vida, dor, propósito e eternidade. E a verdade é que, muitas vezes, nós queremos uma resposta exata, algo matemático, algo que nos feche uma equação. Mas Deus não nos revelou todas as respostas. A Bíblia não detalha cada um desses cenários, justamente porque esses assuntos pertencem ao campo dos mistérios que só o Criador conhece plenamente.

O que eu quero aqui não é trazer respostas absolutas, mas dividir com você algumas reflexões e possibilidades teológicas que fazem sentido dentro da fé cristã e podem demonstrar que sim, estes casos são explicáveis e podem ser respondidos dentro da Teologia Cristã . Este texto é para você que já se deparou com essas dúvidas, para você que talvez nunca pensou sobre isso e agora está curioso, ou até mesmo para você que tem amigos ou conhecidos que usaram essas situações como argumento contra a sua fé.

Esclarecimentos Iniciais

 Um dos primeiros pontos que será base para quase todas as discussões aqui é a minha posição sobre como recebemos alma e quem somos na totalidade. Como seres humanos, não somos uma alma com um corpo, nem um corpo com uma alma. Eu não sou eu completo sem o meu corpo, e também não sou eu completo sem a minha alma. No momento em que dois corpos se tornam um só — ou seja, quando um óvulo e um espermatozoide se unem — ali surge um ser humano. Não partes de ambos, mas um novo corpo, um novo ser. E é nesse instante que uma alma lhe é concedida. O espermatozoide não era eu, o óvulo também não. Eu sou a totalidade dessa união.

Quando essa união, essa aliança surge, essa combinação permite o desenvolvimento de minhas partes no útero. E foi exatamente quando essa aliança se consumou que a alma surgiu, no mesmo tempo em que esse novo corpo individual começou a se desenvolver. A partir do momento em que um corpo morre, o indivíduo está morto até que a alma seja novamente unida ao corpo.

Sobre alma e síndrome do gêmeo desaparecido

Quando os gêmeos compartilham uma placenta, mas têm cordões umbilicais diferentes, o fluxo de sangue pode favorecer um dos gêmeos. O favorecido cresce, enquanto o outro permanece como um envelope vazio. É aí que ocorre a síndrome.

No caso da síndrome do gêmeo desaparecido (conhecido clinicamente como reabsorção fetal), um gêmeo absorve o outro no útero. Se cada gêmeo tem seu próprio espírito, o que acontece com o espírito do feto absorvido? E o bebê resultante tem um ou dois espíritos?

Na verdade, existem três explicações coerentes. A primeira é que um deles morreu. O gêmeo que nasceu e absorveu o outro absorveu apenas restos do corpo de seu irmão, não seu irmão em si. Pessoas não têm alma. Elas são uma alma. São compostas de corpo e alma. Se um corpo está morto, ele está sem alma. O que foi absorvido foram tecidos e células para o desenvolvimento do outro bebê.

A segunda opção é que agora duas almas dividem o mesmo corpo. Pode parecer estranho e, para mim, é improvável, mas é um conceito teológico adotado por alguns.

A terceira opção é que Deus, em sua presciência, sabia o que ocorreria e não embutiu ou soprou uma alma naquele corpo. Isso não prejudica a batalha contra o aborto, já que nós não sabemos se isso ocorrerá e nem os planos de Deus. Sendo assim, é Deus quem sopra a alma quando deseja, e não devemos abortar quem Deus já pode ter consagrado com um sopro eterno.


Por que Deus permite essas anomalias? Qual o plano nessa situação?

Com um estudo cuidadoso de Gênesis, sabemos que a criação original de Deus foi "muito boa" — um reflexo de sua boa natureza — cheia de vida e alegria (Gênesis 1:31). Eu acredito que Ele projetou o universo para que tudo funcionasse junto para a sua glória (veja, por exemplo, Salmos 19:1). Ao criar Adão à sua imagem, do pó da terra, Ele deu ao primeiro homem (e pouco tempo depois, à primeira mulher) uma combinação "muito boa" de DNA. Ele os encorajou a frutificar e se multiplicar.

Se as coisas tivessem permanecido como estavam no início, aquela combinação genética "muito boa" teria continuado a se combinar de maneiras "muito boas" à medida que Adão e Eva dessem à luz os filhos. Claro, sabemos que as coisas não ficaram como eram no início.

Depois que Adão desobedeceu à ordem de Deus com relação àquele fruto em particular, Deus lançou uma maldição sobre sua amada criação — a justa punição pelo cometimento de alta traição contra o Criador do universo. Aspectos particulares da maldição são explicados em Gênesis 3. O ponto culminante da maldição é a separação de Deus para sempre por meio da morte.

Como acompanhamentos da morte, temos dor, sofrimento, doença e distúrbios genéticos. Essas doenças genéticas não são culpa de Deus. Mutações genéticas (incluindo deleções espontâneas em parte do sétimo cromossomo) são agora um resultado natural de não se viver mais em um mundo "muito bom". Nós somos os responsáveis. Toda nossa geração, e aqueles que estavam sob nossa responsabilidade, sofrem devido ao afastamento do Senhor.

Deus é santo e não habita com o pecado. Então, os efeitos desse afastamento são sentidos em nossa vida material e corporal. Pois tudo que é bom emana de Deus. Isso não quer dizer que Ele não tenha um plano maravilhoso de salvação consumado, que salva essas crianças e lhes dá um eterno lar e uma vida restaurada. Assim como nós, que temos uma missão e uma esperança para o retorno do Senhor.


E bebês que nascem com partes de outro? Por exemplo, um braço, um rosto duplicado (não duas cabeças)?

As partes de um corpo não transferem alma. Se assim fosse, um transplante transferiria. Pessoas que recebem coração ou olhos de outra pessoa não recebem outra alma.

O que dizer então do quimerismo já existente? Pessoas que recebem células de porcos ou até mesmo vacas e frangos que recebem hormônios e células humanas para algum fim.

Sendo assim, partes de um corpo não transferem alma. Afinal, perdemos partes do corpo durante a vida, como cabelo, unhas e etc. Nem por isso perdemos a alma. Nós somos uma alma que tem um corpo.

O bebê que teve anomalias genéticas não deixa de ser um indivíduo com sua própria alma, mesmo que ele tenha anexado partes do corpo de um falecido irmão uterino. Eu creio que o irmão já se foi e que aquilo são apenas partes de seu corpo. Ou ainda existe a segunda hipótese: de que agora esse irmão tenha a alma vivente compartilhando o mesmo corpo (embora esse seja um termo complexo e sem respaldo bíblico).


E como fica a ressurreição do corpo dessas crianças no dia da salvação?

Bom, primeiramente, nem mesmo sabemos se os bebês irão ressuscitar como bebês. Afinal, Cristo ressuscitou com uma aparência um pouco diferente, em glória, elevada. Sendo assim, acredito que talvez os bebês possam ressuscitar com um corpo de maturidade, mais elevado que o estado em que se foram, assim como Cristo.

Da mesma forma, esses bebês que sofreram esse tipo de doença serão restaurados a um estado perfeito, assim como pessoas que foram queimadas, etc.


Pessoas com microcefalia têm alma?

Claro que sim. A alma é dada por Deus, não tem relação com falta de capacidade cognitiva ou algo assim. Bebês com microcefalia são pessoas. Todos os seres humanos têm alma.


Gêmeos siameses têm almas separadas?

Creio que ambos são almas separadas, dividindo o mesmo corpo. Entretanto, alguns podem objetar que é uma alma com um corpo duplicado, com partes que não deveria.

Eu creio que, se existem cérebros distintos, que acumulam lembranças e decisões diferentes (mesmo que um deles não tenha essa capacidade), são duas almas. Não que o cérebro cause mais uma alma, mas que ele apenas nos identifica que ali é uma outra vida. Mas isso é apenas um indício, não é determinante. Pode ser um rosto, pode ser outro membro, etc.

Creio que a alma é colocada na união dos cromossomos. Ali significa uma nova vida. O corpo ali, unido, mesmo que não responda ou pense, é como alguém em estado vegetativo, respirando por aparelhos. Era um irmão que só continua vivo (embora por "aparelhos"), vivendo devido a dividir o corpo do irmão.

Creio que sejam duas almas. Entretanto, quando um dos corpos está muito absorvido, o outro na verdade nem vive mais, pois seus principais centros de consciência já foram absorvidos. Nesse caso, embora seja difícil dizer pelas incertezas, parece-me (Deus me perdoe se estiver errado) que retirar um braço sobrando, etc., não será matar o outro irmão. Afinal, ele já está dentro do corpo ou já foi consumido. Na verdade, seria como retirar um braço de alguém com morte cerebral para que não lhe cause transtornos. Seria como uma amputação.

Sendo assim, em minha opinião, sempre foram duas almas, independentemente da forma do corpo. Porém, quando ambos estão unidos, mas ambos falam e vivem vidas de consciência separada, são duas pessoas vivas e com almas. Quando um deles não reage, é como alguém respirando por aparelhos, e quando só existem partes aparentes (braços, pernas) é como alguém que já se foi.

O objetivo aqui não é encerrar a conversa, é abrir espaço para refletirmos juntos, com humildade diante de Deus e com a confiança de que mesmo aquilo que nos parece estranho ou incompreensível ainda está debaixo do cuidado e da soberania do Senhor.



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