Como Ouvir e Discernir a voz de Deus?

 


Como Ouvir a Voz de Deus

Quando vamos em uma lanchonete com amigos, conversamos com eles sobre várias coisas. Então, por que trataríamos Jesus de forma diferente? Para aqueles que se queixam da falta de tempo para oração, aconselho mudar a forma dessa prática espiritual. Embora os horários marcados, em silêncio e locais tranquilos sejam positivos para repensar o dia e permitir uma comunhão mais profunda, creio que se trocarmos nossas conversas diárias conosco por conversas com Deus — como sendo um amigo, um pai que está realmente junto de nós no carro, no shopping, etc. — poderemos crescer em intimidade e profundidade.

Ao reconhecer que Deus é uma pessoa, que se relaciona e está sempre com você, teremos mais assuntos para compartilhar com o Senhor. Um dos grandes problemas que enfrentamos ocorre por acreditarmos que a maioria dos assuntos de nossa vida não devem ser falados com Deus, ou não são relevantes. Pelo contrário, Ele deseja entrar em todos os seus anseios, seus medos, seus desejos.

Somente dessa forma poderemos realmente sentir e discernir os conselhos e a palavra de Deus sendo presentes nas escolhas do dia a dia. Caso contrário, tomaremos todas nossas decisões (depois de ter ignorado a presença de Deus o dia inteiro) e apenas entenderemos a falta de consulta ao Senhor no fim do dia — cansados e exaustos, esperando apenas por dormir. Desenvolvemos o hábito de tratar a oração como mais uma tarefa que precisa ser cumprida, e não como um estilo de vida e uma relação verdadeira.

Temos o exemplo e o respaldo desse tipo de relação observando Jesus nos evangelhos. Jesus orava o tempo todo, e não somente no final do dia, em uma oração agendada, com tempo pré-estipulado e assuntos previamente selecionados. Quanto mais oramos, mais conhecemos a Cristo.


Os Efeitos de uma intimidade profunda

Certo dia eu estava respondendo minha cunhada pelo aplicativo de mensagens da minha esposa como se fosse ela (pois ela estava ocupada no momento). O curioso foi que eu disse pouquíssimas frases e, em pouco tempo, minha cunhada disse: “Não é a Carol”. Perceba: ela sabia que não era sua irmã simplesmente porque eu escrevia diferente.

Tiramos daqui uma grande lição: quando conhecemos a Deus e temos intimidade através do conhecimento da Palavra e de uma vida em oração, começamos a entender, reconhecer e discernir quando é a voz de Jesus ou não. Poderemos identificar o diálogo do Pai mesmo quando Ele fala por meios diferentes — seja audivelmente, por uma situação, através de outra pessoa, por uma lembrança ou por intermédio da sua Palavra.

Uma pessoa que passa muito tempo com outra dificilmente consegue manter um trote de telefone por muito tempo, pois quem tem intimidade sabe diferenciar a voz. Qualquer mãe ou pai sabe quando seu filho está passando por alguma dificuldade ou está escondendo algo, somente pela forma como ele age. Esse tipo de relacionamento demonstra que só não conseguimos reconhecer a voz de Deus quando estamos afastados da comunhão com Ele, ou seja, quando negligenciamos o tempo juntos.

Quando não conhecemos Jesus, pensamos que tudo é apenas coincidência. Geralmente, aqueles que nunca tiveram um relacionamento com Deus acham absurdo alguém dizer que falou com Deus. Isso ocorre porque pessoas que nunca ouviram Deus falar acham que isso não existe.

Quando uma garota gosta de um rapaz, mas ele não está atento ou nem reconhece que exista tal chance de isso acontecer, geralmente ele demora para entender os sinais que ela está enviando. Da mesma forma, um rapaz com um ego muito grande tende a pensar que todas as pessoas estão interessadas apenas por serem simpáticas com ele.

Em ambos os casos, presenciamos uma distorção, falta de conhecimento sobre a realidade, e também percebemos como nossas concepções preestabelecidas afetam a realidade e nos impedem de interpretar corretamente o que estão nos falando. O mesmo ocorre com os céticos, que por possuírem um preconceito contra a existência de Deus, são incapazes de ouvi-lo falar e reconhecê-lo. Eles tendem a tratar todos os sinais e assinaturas de Deus de forma distorcida — seja procurando explicações tolas ou acreditando em qualquer falso profeta que lhes fale algo.

Tudo isso poderia ser facilmente evitado através de uma sensibilidade que só pode surgir pela intimidade, conhecimento da verdade e humildade.

Às vezes passamos pela vida como maratonistas e temos a cabeça lotada de tantas informações que nem reparamos nos milagres e sinais ao nosso redor. Como diz o ditado: “O pior cego é o que não quer ver.” Muitas vezes pedimos durante toda a vida para vermos um milagre, mas quando temos a oportunidade de sermos usados como ferramentas de Deus, agimos como incrédulos, ignoramos, olhamos somente para dentro de nós, pois estamos exercitando tanto a carne que não escutamos o Espírito Santo.

Tal intimidade diária com Deus também nos permite reconhecer o Reino em todas as partes e em todos os fragmentos do nosso dia.

Às vezes vemos pessoas buscando desesperadamente serem usadas por Deus, mas sempre esperando uma missão de evangelizar na África ou de ser um grande pregador. Mas a grande realidade é que não somos usados e comissionados por Deus apenas com um grande ministério ou quando vamos para a Ásia, África ou outras terras distantes.

Existem pessoas que nunca saíram do seu estado ou nunca pregaram para mais de duas pessoas ao mesmo tempo, que talvez alegrem mais a Jesus do que muitos grandes evangelistas. Abraão já tinha uma vida com Cristo antes de ser chamado para o plano maior. Precisamos aprender a transformar cada detalhe do nosso cotidiano em uma vida no Reino de Deus, e não limitar a vida cristã a dias específicos, horários, temas ou locais determinados.

Somente estaremos preparados para compreender, sem erro, uma missão maior — e que exija um sacrifício maior — se durante anos estivermos alinhados e entrosados com a voz cotidiana de Deus. O tempo de Jesus é perfeito e não podemos subestimar o trabalho que Ele nos deu neste tempo. Pelo contrário, precisamos estar atentos para reconhecer o que Ele nos fala hoje, na nossa situação atual. Afinal, Deus tem um plano para todos, em todos os momentos e lugares.

Existe festa no céu quando um só pecador se converte, e isso demonstra que um pastor de igrejas gigantes pode muitas vezes desagradar a Jesus com sua ingratidão e negligência para com os menores, enquanto uma simples senhorinha que limpa chão no seu trabalho e fala de Deus para os outros demonstra intimidade e boa leitura do Reino de Deus no seu cotidiano. Jesus não vê como as pessoas veem; aquilo que o mundo valoriza não é o que Deus valoriza.

Outro erro grave vencido pela compreensão da voz de Deus é o relativismo da Palavra. Às vezes pensamos: “Eu acho que Deus é assim”, ou “Ah, eu acredito que Deus é dessa maneira”. Mas, na verdade, não podemos montar Deus como achamos que Ele é.

Não adianta você achar que sua esposa gosta de frutas e dar uma cesta de frutas para ela se essa não é a realidade dela. Não adianta juntar as partes que não gostamos da revelação de Deus e excluir outras; pois, se fizermos isso, estaremos adorando outro deus — um falso deus, uma versão deificada e imaginária das nossas vontades.

Para conhecer a Deus, devemos ler a Bíblia, estar atentos à Sua voz e crescer em intimidade através da oração, submissão, prontidão, fidelidade e humildade. Precisamos clamar ao Senhor por todas essas coisas e exercitar tais crescimentos em nós mesmos.

A última coisa é que uma intimidade com Deus gera confiança e fidelidade, pois essa compreensão nos permite enxergar e não ignorar tudo aquilo que Deus já fez em nossas vidas — aquilo que Ele nos livrou e aquilo que veio da Sua parte.

A falta de intimidade e de reconhecimento da ação de Deus em nossas vidas nos faz ser ingratos, egocêntricos e orgulhosos, achando que nossos dons são provenientes de nossas forças. Tal negligência também nos deixa impacientes, pois não aprendemos como Deus trabalha.

Quando você conhece muito bem um amigo que admira, você sabe se pode confiar nele, sabe se ele vai cumprir um combinado, se terá capacidade de te ajudar. Resumindo: se ele te estender a mão, você sabe se pode segurar.

Da mesma forma, se tivermos um histórico de relações e reconhecimentos com Deus — de tudo que conversamos, de tudo que fizemos juntos — poderemos até não entender completamente todas as fases de nossas lutas, mas confiaremos que, às vezes, a melhor coisa que poderia acontecer era algo dar errado. Poderemos olhar para o passado e lembrar daquilo que Deus tirou da nossa vida porque nos faria mal. E poderemos reconhecer que Deus sempre soube, sabe e sempre saberá o que faz.

No final do filme Free Guy, a protagonista se sente apaixonada por um NPC de videogame. Entretanto, contrariando todo clichê moderno (de amor sem fronteiras), este personagem diz que a ama tanto e exprime coisas tão boas para ela porque, na verdade, ele foi projetado como uma carta de amor personificada — uma carta projetada para ela, por alguém (esse alguém era o colega de trabalho dela).

Da mesma forma, se amamos coisas neste mundo, se certas coisas nos fazem tão felizes, é simplesmente porque elas foram cartas e presentes programados para nós pelo Criador. Elas exprimem e são a caligrafia e os sentimentos do Criador.

O que é que nos faz nos apaixonarmos por coisas deste mundo? Por que nos conectamos tanto com algumas coisas? Já pensou nisso? Se amamos coisas neste mundo, é porque elas contêm propósitos e letras do Criador direcionadas a nós. Se um parafuso encaixa perfeitamente em uma porca, é porque o Criador dela a projetou pensando nesta conexão.

O mundo só é mau quando as ações do “NPC” — ou seja, nós — são egoístas, ausentes do propósito para o qual foram criadas.


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