Teoria do Boeing 777
Richard Dawkins formulou um argumento chamado "teoria do Boeing 777", que ele acredita ser infalível — um argumento que muitos ateus chegam a chamar de “prova de que quase com certeza Deus não existe”. Sim, parece piada, mas essa é, segundo ele, uma ideia irrefutável. Dawkins afirma inclusive que jamais alguém apresentou uma boa resposta a esse argumento.
Essa ausência de respostas pode até ser real, mas não pelas razões que ele imagina. O que acontece é que os "criacionistas" com quem Dawkins costuma debater não são criacionistas de fato. Na verdade, são religiosos mal preparados, sem estudo aprofundado do tema, e, em muitos casos, com posicionamentos dúbios até quanto à própria fé. E vale lembrar que Dawkins recusa-se a debater com William Lane Craig, mesmo sendo Craig uma das vozes mais lúcidas e preparadas para esse tipo de discussão. Ou seja, Dawkins parece evitar os oponentes mais sólidos e escolhe alvos caricatos para construir seus ataques — criando, assim, o que chamamos de espantalhos, ou seja, versões distorcidas do pensamento cristão.
A refutação a seguir carrega elementos dos argumentos de Craig, somados a observações minhas.
Dawkins propõe que os criacionistas afirmam ser tão improvável que a vida tenha surgido por acaso — como no processo de seleção natural — que isso seria comparável à chance de um furacão passar por um ferro-velho e montar, por acaso, um Boeing 777 pronto para voar. A partir disso, Dawkins diz que Deus seria esse Boeing 777, ou seja, extremamente complexo, e que, se estamos apelando à complexidade como prova de design, então precisaríamos aplicar o mesmo raciocínio a Deus: “quem criou Deus?”
Mas aqui está o erro central. Assim como Stephen Hawking comete equívocos lógicos graves ao falar sobre Deus e o tempo, Dawkins comete um erro de base e de lógica que compromete todo o argumento.
O primeiro erro está na exigência de que, se algo complexo exige um designer, então o designer também precisa ser explicado. Mas isso não é necessário. Imagine que eu encontro na lua uma fogueira acesa e um bilhete escrito em russo. A explicação mais plausível, com base no que conhecemos, é que algum ser humano inteligente — que sabe russo — esteve ali. Mesmo que eu não consiga explicar como ele chegou ali, nem por que fez aquilo, a melhor explicação ainda é que houve intervenção inteligente. Em outras palavras: não é preciso explicar a explicação para aceitá-la como a melhor hipótese. E essa é uma concordância da própria comunidade científica.
Para ilustrar ainda mais: imagine uma doença que só afeta cães. Um dia, um ser humano apresenta todos os sintomas dessa doença. A melhor hipótese é que ele esteja com essa doença, mesmo que pareça impossível. Agora, se alguém diz: “isso é absurdo, porque vocês teriam que explicar como ele pegou essa doença canina”, estaríamos ignorando a melhor explicação possível, apenas por não sabermos a explicação da explicação. Isso é irracional e perigoso — e no campo das ideias, também desonesto.
Portanto, o fato de ainda não sabermos todas as origens não pode anular a explicação mais coerente. A exigência de uma explicação infinita para cada explicação nos levaria a um loop eterno de justificativas, e isso destruiria o próprio método científico. A ciência só avança porque aceita explicações parciais, provisórias, com base nas evidências disponíveis.
O segundo erro é a comparação entre dois seres de naturezas diferentes: Deus e o ser humano. O ser humano é contingente, limitado pelas leis naturais, sujeito ao tempo, ao espaço e à matéria. Já Deus é ilimitado, não-orgânico, e não está contido na natureza. Se as leis naturais mostram que o design inteligente está ligado à origem de informações novas no universo físico, isso só se aplica a seres dentro da criação. Deus está fora dessa realidade, não é criado, não é contingente, e não está sujeito às mesmas regras.
Tudo que foi criado precisa de uma origem. Mas Deus não foi criado. Ele é necessário, enquanto o ser humano é potencial — poderia não ter existido. Deus não foi uma possibilidade que se atualizou, como nós. Ele sempre foi, pois Ele criou o próprio tempo. Antes da criação, não havia passado, presente ou futuro.
Nós percebemos que o mundo está em desorganização — isso é uma evidência de que ele teve um começo. Mas essa lógica não se aplica a Deus, pois não há desorganização ou mudança nEle. É como dizer que, se um bolo não cresce, o problema foi o fermento ou a temperatura. Mas isso não se aplica quando falamos, por exemplo, de um ser humano com problemas de crescimento — são naturezas diferentes, e os diagnósticos precisam respeitar essa diferença.
Resumindo: não precisamos provar a explicação da explicação. Essa exigência nos leva a um paradoxo. Se tudo precisa ser explicado infinitamente, nada pode ser explicado. Isso anularia todo o progresso científico e filosófico. O argumento de Dawkins não refuta o criacionismo — pelo contrário, poderia ser aplicado contra o próprio evolucionismo: O que veio antes do Big Bang? Como a primeira partícula se originou? Para dar crédito à teoria naturalista, você também teria que explicar a explicação — o que revela o caráter contraditório e estéril dessa exigência.
Stephen Hawking também comete um erro semelhante. Ele diz que, se no início não havia tempo, não poderia haver um Criador. Mas isso é justamente o que a Bíblia ensina: Deus está fora do tempo. Ele diz: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim". Para Deus, o tempo não é uma realidade que O limita — Ele o criou.
Atribuir características humanas a Deus é um erro infantil, chamado de antropomorfismo. É como dar nome a um carro — pode funcionar como metáfora, mas não como argumento sério. O ser humano insiste em projetar suas limitações sobre Deus. Mas nós temos tempo, começo e fim; Deus não. Como saber que o tempo passa? Pela mudança. Se não há mudança, o tempo não passou. E a Bíblia diz que Deus não muda — Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. Portanto, Deus não está no tempo.
Se fôssemos eternos, talvez fosse difícil entender o conceito de tempo. Da mesma forma, sendo temporais, nos é difícil entender a eternidade.
Deus não é o Boeing 777. O ser humano é. O ser humano foi criado e, portanto, precisa de design inteligente. Deus não foi criado. Ele sempre existiu. Ele criou o tempo, o princípio e o fim. Ele não precisa de design inteligente. Esse é o erro básico tanto da teoria do Boeing 777 quanto da teoria do tempo de Hawking: colocar Deus no mesmo patamar do ser humano.
Nosso ponto continua firme: toda criação precisa de design. A ciência confirma isso. Mas Deus não é criação, e por isso não precisa de design.
Sabemos que o universo é contingente. E como um retrocesso infinito de causas contingentes é lógica e filosoficamente impossível — afinal, sem uma causa primeira, não haveria segunda, nem hoje — então deve haver um Ser necessário, eterno, a Causa Incausada, que atualiza todas as potências e deu origem a tudo o que existe. Chamemos esse ser de Deus.
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