Como um cristão deveria reagir a brigas e assaltos?
Veja bem, um cristão deve ser alheio a brigas tolas e discussões. Ele deve ser um pacificador, paciente e ter controle sobre seus atos e emoções. Um cristão não se importa com zombarias e desaforos, pensa sempre à frente, confia na imagem que Deus tem dele e não se incomoda que pensem que é covarde — afinal, seu plano maior é o do Senhor.
Um cristão sempre preza pela segurança de sua família e sabe que, dentro de agressões, ninguém sairá ganhando. Nunca passa em branco: você sempre terá algum machucado, uma preocupação ou uma oportunidade de testemunho interrompida. Por isso, sempre engula seco, tenha autocontrole, não seja escravo da ira e vença o mal com o bem. Reagir ao mal utilizando o mal é sucumbir a ele.
Responder a agressões com mais agressões infundadas é não confiar na justiça de Deus e considerar as armas do mal a melhor — e única — forma de reação. Não dê ao agressor aquilo que ele quer. Não perca sua razão. Entenda que quem age com maturidade, evitando brigas tolas, sempre aparenta superioridade (embora seus hormônios e a carne digam o contrário naquele momento).
Entretanto, digamos que um cristão seja abordado em uma situação de perigo inevitável, onde precise se defender ou defender sua família. Compreenda, então, que um cristão só utiliza a violência para conter a própria violência. Ou seja, um cristão não agride para defender sua honra, seu nome, para se mostrar mais forte ou apenas para reagir. Um cristão precisa compreender que somente em situações em que a única maneira de parar um mal maior for reagindo com sua força é que essa reação pode ser considerada.
Se a vida de alguém está em risco, você pode defendê-la. Caso contrário, se não houver risco físico imediato e você puder fugir ou sumir dali, sempre procure outras opções. A postura sempre deve ser de pacificação nesses casos. Apenas mude de ambiente, repreenda de forma veemente e com firmeza, mas evite conflitos físicos desnecessários. Porém, sempre demonstre aborrecimento diante de situações de desrespeito. Não aceite, nem sorria para posturas que o agridem socialmente.
Agora, em casos extremos, como assaltos, tenho uma posição particular. Não é algo direcionado biblicamente, mas apenas uma opinião pessoal. Creio que, sempre que um bandido o abordar, a melhor postura é deixar que levem seus objetos e se evadir rapidamente do local, com calma. Porém, existem casos — como se o meliante lhe pedir que vá com ele, que entre no carro ou algo assim — em que meu conselho é: resista.
Veja bem: durante os regimes nazistas e comunistas, por que muitos dos sequestrados não tentavam se defender, gritar e lutar por suas vidas? Mesmo que fossem mortos pela força naquele momento, poderiam deixar claro que não seria tão fácil lhes tirarem a vida e poderiam causar alarde e confusão nas ações dos grupos totalitários. Poderiam ao menos ter evitado mortes mais lentas. Mas por que não o fizeram? É claro que cada caso é particular — alguns não tinham condição de se defender, outros tinham algum propósito específico. Mas pesquisas demonstraram que a maior parte das pessoas sempre segue as ordens do raptor em silêncio, pois crê que depois terá oportunidades melhores de escapar e que tudo ficará bem.
Entretanto, devemos entender que o momento da abordagem é uma janela única de oportunidade. Um raptor — principalmente nos tempos modernos, em regiões urbanas — quer apenas sair rapidamente daquele local, próximo da vista de todos. Ele está naturalmente ansioso e querendo se evadir. Ele sabe que pode passar por complicações, e a única coisa que deseja é chegar a um ponto de conforto. Se ele conseguir levar a vítima a um local previamente planejado, terá muito mais frieza e controle sobre ela. Poderá intimidar, comandar com mais propriedade e agir com crueldade. Mas no momento da abordagem, ele não tem tempo nem recursos para dominar toda a situação. Suas chances de sobrevivência e evasão são muito maiores ali.
Se alguém lhe abordar, querendo lhe dar ordens e tirá-lo de onde está, rejeite fortemente. Diga que não irá, saia andando, se necessário grite o máximo que puder e ataque com o máximo de veemência e força que conseguir. Use todos os recursos possíveis para resistir. As chances de que o bandido fuja são grandes — afinal, ele está em um local onde diversas pessoas podem aparecer, e muitas situações podem sair do controle. Se você gritar e causar um grande escândalo, ficará muito mais fácil que alguém perceba que algo errado está ocorrendo, chame ajuda, repare no carro em que você foi colocado etc.
Mesmo que você seja atingido pelo criminoso (Deus nos livre de tudo isso), terá muito mais chances de socorro se estiver em público. Mas se for levado para um local particular do meliante, principalmente em silêncio, dificilmente alguém perceberá que algo errado estava ocorrendo — e você estará exposto a tudo o que quiserem. Em situações assim, dificilmente será socorrido.
Quando um agressor está abordando uma vítima, ele nunca sabe exatamente os reveses que podem ocorrer. Há exemplos disso na natureza. Em um vídeo onde leopardos atacam um bebê elefante encurralado — uma presa fácil — o elefante, em um momento, para de fugir e começa a investir contra os caçadores, que se assustam e começam a se afastar. Obviamente, eram muito mais fortes e o pequeno elefante não tinha chances reais contra eles. Mas, devido à sua postura de não ser passivo, conseguiu escapar e sobreviver.
Perceba: não estou advogando que se resista a todos os assaltos, mas que, se a situação começar a ficar muito violenta, aí sim se reaja e se procure as melhores possibilidades de sobrevivência.
Essa postura entre atividade e passividade é um dos critérios mais importantes — e nem sempre conhecidos — nos esportes de luta. Nunca devemos nos afastar do adversário, pois isso demonstra descontrole e inferioridade. Quando alguém diminui o espaço — como um goleiro no futebol, ao se aproximar do atacante — ele cresce diante do agressor, ocupa espaço. Sempre que um dos lutadores começa a se afastar constantemente, está prestes a perder a luta. Anderson Silva e diversos outros lutadores, em seu auge, venciam combates antes mesmo que começassem, pois dominavam o adversário psicologicamente. Lutando de guarda baixa e sempre requisitando o confronto, mostravam que estavam no controle.
Por isso, não seja passivo. Em brigas de trânsito, percebemos que aquele que discute, mas tem uma postura corporal passiva, acaba fortalecendo o psicológico do adversário. Um agressor que percebe uma vítima inativa e obediente sempre ganhará confiança e agredirá cada vez mais. Por isso, demonstre coragem e resistência. Aquele que entra em um ringue arrepiando o outro com sua postura, que avança e ganha espaço psicológico, sempre terá vantagens.
Recentemente vi um vídeo de um homem idoso, dono de um estabelecimento, que repreendeu uma dupla de assaltantes que entrava em sua loja. Milagrosamente, eles fugiram para sua moto enquanto o idoso os repreendia com imposição de mãos. Sim, claramente ocorreu um milagre ali — uma provisão divina — mas também percebemos o medo daqueles assaltantes. Assim como Deus usou o vento para abrir o mar aos hebreus, creio que Ele também usa o medo natural dos agressores nesses momentos. Talvez você, um homem de fé, possa repreender e, com a ajuda de Cristo, sobreviver por não ter sido passivo.
Mais uma vez, não estou dizendo que você deva reagir a assaltos. Meu conselho é claro: não reaja. Como cristãos, não devemos nos apegar a bens materiais, pois são coisas que as traças corroem e que não levaremos conosco. Carro, relógio e afins não são tesouros em nossa vida.
Portanto, preste bastante atenção: o que estou dizendo é que, em assaltos, o cristão deve prezar sempre pela segurança de todos. Deixe que os assaltantes levem os bens materiais e procure se afastar do local com calma, sem demonstrar medo ou desespero, pois isso pode agravar ainda mais a situação.
O ponto que quero destacar é outro: em situações de sequestro, quando o criminoso não está apenas tentando levar seus pertences, mas sim levar você, creio — e reforço que essa é uma opinião pessoal — que devemos fazer o máximo possível para fugir. Seja pedindo ajuda, seja resistindo com firmeza, acredito que não devemos entregar nossa segurança nas mãos de alguém que, a partir daquele momento, terá total controle do ambiente e de nós.
Jamais confiaria minha vida à vontade de um meliante nessas circunstâncias.
Claramente, não podemos depender apenas destes conselhos. Deus é sempre nossa segurança e Aquele a quem devemos deixar dirigir nossos atos e decisões em cada momento de dificuldade.
A violência só deve ser usada para conter e impedir mais violência. Ao tapa da humilhação, nós não revidamos — entregamos a outra face. Como cristãos, precisamos sempre nos lembrar do Sermão do Monte e compreender que, contra palavras, lidamos com palavras. Agredir alguém que nos ofendeu é praticar um mal pior do que o dele. Enquanto lutar para se defender não é agressão ou violência, mas apenas defesa.
“Não amo a espada brilhante por sua agudeza, nem a flecha por sua rapidez, nem o guerreiro por sua glória. Só amo aquilo que eles defendem.”
— Faramir, J.R.R. Tolkien
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