Jovens que não querem se casar e Crianças que não querem Crescer.



 Jovens que não querem se casar


Atualmente, é comum ver jovens que não têm interesse em sair de casa. Muitos permanecem morando com os pais até bem depois dos 30 anos, e isso parece ter se tornado aceitável, como se fosse parte do tempo moderno. Mas, por mais que todos já saibam das consequências disso — como infantilização, dificuldade de amadurecimento, disputas por espaço, má convivência e tantos outros conflitos — eu gostaria de refletir aqui não sobre os sintomas, mas sobre os motivos por trás disso.

Quando minha filha mais nova nasceu, tínhamos receio de que nosso filho mais velho sentisse ciúmes e começasse a regredir em seu comportamento, querendo usar chupeta, mamar de novo, essas coisas que muitos pais já ouviram de pediatras como sendo "esperado". Mas, para nossa surpresa, a forma como escolhemos educar nossos filhos funcionou de maneira bastante positiva. Sabendo que as crianças, muitas vezes, regridem por perceberem que o irmão menor recebe mais atenção e cuidados, nossa proposta foi diferente: a criança não pode enxergar como vantajoso agir como um bebê. Embora ela veja os irmãos pequenos fazendo determinadas coisas, a criança maior precisa perceber que há benefícios reais em crescer, que vale a pena deixar práticas infantis para trás.

Passamos a ensinar nosso filho que por ser mais velho ele tinha acesso a experiências únicas: poder brincar em parquinhos mais radicais, assistir certos desenhos, brincar com determinados brinquedos e até comer coisas que os menores não podiam. Aos poucos, ele começou a perceber que, embora sua irmã usasse chupeta, ela não podia fazer muitas coisas que ele já podia, como, por exemplo, tomar refrigerante. Isso gerou nele um sentimento de orgulho e desejo de amadurecer. Inclusive, quando deseja algo que ainda não pode ter — como experimentar o energético que o pai toma — ele compreende que isso é uma limitação temporária, e fica feliz em saber que um dia poderá fazer isso com responsabilidade, pois terá maturidade para saber quando e como usar.

Da mesma forma, muitos jovens hoje não sentem necessidade de sair da casa dos pais porque simplesmente não enxergam nenhum benefício em fazê-lo. Como não são cobrados a pagar contas, assumir compromissos ou responsabilidades reais, acabam não percebendo que poderiam estar fazendo exatamente isso — mas em suas próprias casas, com suas próprias coisas e suas próprias regras. Pelo contrário, os pais constroem em volta deles um ambiente de proteção exagerada, sustentam e mimam adultos que já poderiam estar produzindo frutos por si mesmos. Adultos que já poderiam estar cuidando de suas famílias, contribuindo com sua própria força, mas que foram treinados para continuar sendo dependentes. Isso rouba deles a chance de crescer, e ainda atrasa o foco da família, que deveria estar direcionado para outras fases da vida.

Esses jovens escolhem continuar morando com os pais porque acham mais cômodo. E de fato é. Mas não conseguem enxergar que embora estejam perdendo conforto, há conquistas muito maiores esperando do lado de fora. Quando eu me casei, foi justamente porque não queria mais submeter nem a mim, nem à minha noiva, às limitações cotidianas da casa dos meus pais. Eu era um adulto, pagava minhas próprias coisas, minha noiva também, mas dentro da casa dos meus pais, mesmo sendo adultos, nós estávamos sob autoridade que não era a nossa. Tínhamos que pedir permissão para mudar coisas, conviver com restrições, compartilhar o mesmo teto. E tudo isso interfere na intimidade, tanto do casal quanto dos pais, que precisam conviver com conversas interrompidas, cuidados com a roupa, com os horários, com tudo. Não é um ambiente sustentável a longo prazo.

A melhor forma de entender esse fenômeno é perceber que os pais não têm ensinado seus filhos sobre a beleza do amadurecimento, sobre a importância e a dignidade de crescer e frutificar. Hoje, quando olhamos para muitos adultos, o que vemos são pessoas tentando voltar à juventude a qualquer custo. Mães que se vestem como adolescentes, que querem sair com as filhas, frequentar baladas, manter a estética da juventude como prioridade. Pais que falam o tempo todo sobre como a juventude foi boa, como o tempo passou rápido demais, como agora tudo perdeu a graça. Esses comportamentos, ainda que muitas vezes inconscientes, ensinam por repetição que crescer é perder. O jovem, ao observar tudo isso ao longo dos anos, absorve a mensagem de que amadurecer é entrar em uma fase pior, mais triste, mais limitada. E se os próprios adultos lamentam por não estarem mais na juventude, o que há de desejável no que vem depois? Antigamente era diferente. Ao olhar para os adultos, queríamos ser como eles. Queríamos ter sabedoria, liderança, capacidade de cuidar dos outros. Os homens almejavam ser como os grandes chefes de família, como o poderoso chefão do clássico dos cinemas, alguém respeitado pelos mais jovens, honrado, procurado por conselhos, admirado pelas suas conquistas e firme nas decisões, aquele que tem a capacidade de liderar e é aceito pelos seus liderados. As mulheres queriam ser aquelas que sabiam embelezar um lar, que cuidavam de todos ao redor com força e graça, charmosas, que sabiam o que dizer na hora certa, que firmavam a casa e davam segurança, que se sacrificavam para ser o ícone de amor mais profundo que já conhecemos desde a infância. Mas hoje, ao ver adultos que recusaram essa construção e optaram por manter uma postura adolescente, os jovens aprendem que a irreverência, a irresponsabilidade e o conforto são o auge da vida. Se os pais vivem se lamentando por terem perdido isso, o filho aprende que nunca deve abrir mão.

 Esse mesmo comportamento, inclusive, é replicado na sociedade, porque pais também são líderes — e muitos líderes tratam seus liderados com a mesma superproteção que aplicam em casa. Por isso, não é de se espantar que muitos membros de igreja não amadurecem na fé. Vivem décadas dentro da comunidade cristã, mas sem evangelizar, sem se sacrificar, sem buscar ministério. Acomodados, não assumem responsabilidades espirituais, vivem buscando apenas músicas e pregações que falem de bênçãos e vitórias. São bebês na fé, que ainda preferem se alimentar de leite porque não conseguem ver beleza no alimento sólido. A própria igreja, muitas vezes, tem reforçado esse tipo de mentalidade ao pregar apenas sobre bênçãos, prosperidade e bem-estar emocional. Quando a fé se resume a isso, a vida cristã passa a girar em torno do que o crente pode receber, e não do que ele é chamado a entregar. Assim, surgem cristãos que acreditam viver algo superior ao que viveram os mártires, os evangelistas, os heróis da fé. Pessoas que pensam que o auge da vida cristã é estar bem com todo mundo, com um sorriso leve, uma paz de revista. Não querem crescer porque nunca foram ensinados a admirar os que cresceram em sofrimento e firmeza. Dos púlpitos, quase não se fala sobre os que lutaram o bom combate, sobre os que foram fiéis até o fim, sobre os que morreram em honra, obedecendo mesmo sem ter recebido a resposta, glorificando mesmo sem o livramento. Fala-se apenas dos que foram curados, dos que prosperaram, dos que foram consolados. Mas não se celebra os que consolaram outros, os que sustentaram outros, os que edificaram a fé de toda uma geração enquanto sangravam por dentro. E isso tem formado um povo que não quer maturidade, porque não entende a nobreza que existe nela.

Esses são os mesmos filhos que chegam às empresas esperando ser valorizados sem entregar resultados, que querem paciência infinita com seus erros, que acham que estudar foi suficiente para que mereçam o topo. Não aprenderam que crescer dói, que assumir responsabilidades pesa, mas que é isso que nos forma como pessoas. E assim, continuam vivendo no quartinho ao lado, esperando que o mundo se curve à sua imaturidade.


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