A Estranha e Triste Moda de Defender o Tabagismo
Nos últimos anos, temos testemunhado nas redes sociais um processo de defesa e romantização do tabagismo, que inclui cigarro, cachimbo e charuto, por parte de muitos influenciadores, principalmente aqueles ligados a círculos católicos e protestantes. Vários influenciadores cristãos apareceram fumando, glamourizando a prática e, com isso, influenciando muitos jovens que buscam se identificar com a estética de tal vício.
Essa moda acaba surgindo como um ponto de reação negativa, vista de forma semelhante em outras épocas. Grupos de direita cristã têm a postura positiva de se voltar contra as "frescuras" da geração moderna “pai de pet” e, por isso, acabam desenvolvendo uma estética própria de masculinidade e rebelião contra a ordem politicamente correta. No entanto, para sustentar essa narrativa, as pessoas que a carregam acabam tendo até mesmo seus erros e vícios copiados. Afinal, toda filosofia, infelizmente, acaba sendo reduzida a um ícone, uma pessoa que personifica tal modo de vida, que ilustra e cria uma semiótica contextual que outros tentam comprar para se sentirem mais portadores de tal ideologia.
Esses defensores e influenciadores de direita acabam, por sua vez, influenciando outros a fumarem, que por sua vez influenciam mais pessoas. O mesmo ocorreu no século XX, quando grupos de homens desejando enfrentar movimentos feministas (o que era algo correto) erroneamente ligaram tal resistência a práticas como posters de mulheres nuas, revistas Playboy e toda uma estética distorcida da masculinidade.
Parece inacreditável que, depois de anos com fatos sendo claramente demonstrados social e cientificamente de que o cigarro é completamente prejudicial, viciante, e que diminui as capacidades respiratórias de qualquer pessoa, e após os escândalos que demonstravam a manipulação publicitária feita pelas indústrias de cigarro (inclusive visando crianças para viciar uma geração em troca de dinheiro), tal droga volte a figurar entre os jovens e seja defendida por influenciadores cristãos.
Muitos dos seguidores tentam justificar e encontrar qualquer argumento para defender tal ato, demonstrando que sofrem de dissonância cognitiva ao tentarem defender seus maus hábitos. Estes não se contentam em praticar o fumo como algo de sua própria responsabilidade, mas distorcem fatos para tentar defender esse novo ídolo. É triste ver como alguns conservadores estão se tornando tão pirados quanto progressistas. Querem se entupir de cigarro? Façam, mas não busquem justificativas para seus vícios e falhas como os próprios pais de pet e militantes têm feito por anos.
O Mito dos Benefícios e a Hierarquia de Valores
Uma das afirmações mais coerentes que tentam usar é que o cigarro faz mal para uma parte da saúde e bem para outra, dado que saúde é um conceito amplo que considera questões biológicas, psíquicas, sociais e espirituais. Essa afirmação é realmente verdadeira e um princípio que precisamos nos atentar para a amplitude do que queremos dizer com saúde. Entretanto, a chave para essa resposta é a hierarquia dos valores e seu contexto.
Embora o cigarro possa trazer algum benefício para a concentração (mesmo que mínimo), ele prejudica áreas de saúde mais importantes do que a concentração, como o controle do próprio corpo perante um vício, a capacidade pulmonar, combate severos problemas bucais e, fundamentalmente, a preservação da saúde do próximo e a longanimidade da vida. Outro ponto principal é o contexto, já que essa concentração pode ser adquirida de outras formas (como atividades físicas, hormônios regulados, entre outros), ou seja, tal concentração não precisa ser buscada como prioritária.
Sendo assim, o fato de um vício possuir algum benefício não justifica seu uso, afinal, qualquer coisa tem algum benefício, por menor que seja. A cocaína tem o benefício de “ligar a pessoa”, e espancar alguém na rua tem o benefício de descontar sua ira, mas tudo isso deve ser feito? A questão não é se algo tem benefícios, mas a comparação com os malefícios que ela traz, a necessidade de seu uso e o contexto em que ela se encontra.
Existem benefícios que não precisamos ou não devemos buscar. Embora surjam com qualquer pesquisa sobre benefícios do fumo ou da nicotina, isso são argumentos burros, por tudo que foi demonstrado e pelo fato de que existem formas muito mais inteligentes e eficazes de se consumir quaisquer substâncias, não fumando-as. Quaisquer benefícios cognitivos do fumo jamais irão superar os inúmeros malefícios, já que todas as especialidades médicas lidam com problemas causados por ele, inclusive a cirurgia plástica.
Todos temos hábitos idiotas e não precisamos ficar tentando justificá-los para o mundo. Essa bolha direitista que tem surgido tem apenas tentado criar uma imagem de "intelectual cool" e encontraram no cachimbo ou no charuto tal possibilidade como um “fumo sofisticado”. Essa imagem é uma grande piada, dado que charutos e fumo são totalmente associados e desejados por grupos de umbanda e outros. O argumento de que “muitos intelectuais são fumantes” é outra bobagem, pois da mesma forma que existem intelectuais que fumavam, existiram vários outros que não o fizeram e outros que nutriam vícios diferentes. Essa relação de causalidade é simplesmente inventada e são apenas malabarismos para tentar justificar o injustificável e uma romantização de uma estética barata.
Por último, uma resposta comum destes é: “Basta não fumar, nós estamos apenas informando o motivo de fumarmos.” O problema é que essa frase genérica e burra pode ser usada para qualquer coisa. Um viciado em crack ou em heroína pode dizer a mesma frase sem mudar uma só palavra; isso não faz com que seu argumento seja correto ou deva ser engolido sem ser refutado.
Como cristãos, não devemos buscar fazer tudo que é permitido, mas sim olhar pelo que nos convém, por aquilo que é mais perfeito. O cigarro é nitidamente um hábito ruim e totalmente dispensável. Ele irá prejudicar áreas importantes de nossa vida cristã e seus benefícios não superam tais perdas. Eu não fumo, pois posso ser muito melhor sem ele.
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