Os Tais "Coaches" de Sedução


Os Tais "Coaches" de Sedução e a Cultura do Artifício


Em meados de 2019, testemunhamos a explosão dos "coachs", um tipo de atividade que floresceu com a facilidade de pseudointelectuais poderem obter dinheiro rápido. Vimos surgir o coach fitness, o coach profissional, o coach de relacionamentos, e até mesmo os famigerados coachs de sedução.

Com o advento das redes sociais, o alcance dessa atividade encontrou um terreno fértil para a venda de conselhos, mesmo que fossem puramente ilusórios ou equivocados. Afinal, como essa prática não exige estudo, avaliação criteriosa, comprovação ou algo do tipo, basta a aplicação de frases de efeito e teorias que dizem o que as pessoas querem ouvir. Muitos se apresentam, assim, como especialistas, empurrando um suposto direcionamento para que você, de fato, conquiste algo.

São, em essência, teorias reducionistas que soam filosóficas, mas não têm consistência. Se você diz a um coach, por exemplo, "Perdi meu ônibus e estou triste," ele pode responder: "Então seja seu próprio ônibus." Eles não buscam lhe apresentar algo respaldado ou correto, mas apenas algo mainstream, da moda, que seja natural e fácil ao ouvido de muitos. Eu mesmo conheci em círculos próximos diversas pessoas com sérios problemas em suas vidas de relacionamento, finanças, profissão e emocional, que se declaravam "coachs de sucesso" por terem ouvido meia dúzia de palestras, sem qualquer consistência, e pensavam ter o poder de mudar a vida de outros. Um psicólogo estuda algo que vem sendo desenvolvido através de conhecimento científico há séculos; o Pastor da igreja aconselha com base no que a teologia dirige e apresenta sobre a vida social; mas um coach apresenta teorias populares e apenas isso.

Devido à grande "frescura" do século XXI, vivemos no Brasil algo semelhante ao que ocorreu décadas atrás nos Estados Unidos: um movimento de contraproposta, uma resistência masculina. Pessoas de opinião popular apareceram, reforçando a ideia do retorno a uma masculinidade tradicional. O problema é que, na maioria das polarizações, acaba-se assumindo, erroneamente, uma postura de antagonismo extremo, mas qual seria o masculino extremo? Pegavam, então, vários chavões, efeitos de maus hábitos e até mesmo o pecado, para tentar enfrentar o politicamente correto e a demagogia, levantando a bandeira de uma masculinidade escrachada, um catado de diversos filmes e imaginário popular, ou seja, churrasco, barba grande, faca, tiro, suor, e por aí vai. Essa masculinidade não buscava o que o homem deveria ser, mas apenas apresentava uma proposta rival ao politicamente correto.

Muitos desses indivíduos apresentavam um simbolismo, pretendendo apresentar suas vidas como a de alguém que estava próximo de ser milionário; a internet era lotada deles, todos com as mesmas frases e posturas. Como todo coach, eles se baseiam em algo a buscar com todas as forças, seja sua carreira, seja o relacionamento, seja o sucesso esportivo. Esses que "bombavam" visavam o lucro, supostamente lutando contra a "frescura," e apresentavam uma alternativa como: "Paremos de ser hipócritas, o negócio é empreender e investir." Eles repreendiam o pensamento politicamente correto e as preocupações sociais, afirmando que não devemos ser hipócritas, mas sim visar o trabalho duro. Eram sempre superconfiantes, vendendo suas frases e palestras com firmeza para demonstrar que tinham todo o controle, que logo seriam podres de ricos, que suas vidas eram excelentes e que sua postura resolvia tudo. Qualquer área idolatrada, quando respaldada por frases de internet e aplicada com confiança por figuras marcantes, atrai multidões, e é isso que eles faziam.

Outra espécie eram os coachs de realização pessoal, que traziam filosofias niilistas e existencialistas de forma lapidada, ou seja, apresentavam a filosofia filtrada e isolada para aqueles que nunca ouviram nada de filosofia. O problema de todos esses é o nível raso em que se mantêm; eles não buscam apresentar doutrinas racionais, históricas e com embasamento teórico, mas apenas populismo, emoção e motivacional. Eles não tratam das implicações, refutações e bagagem teórica necessárias para compreender essas coisas, apenas recortam aquilo que acham bonito e vomitam em outras pessoas como a solução de seus problemas.

A Específica Vertente: Os Coachs de Sedução

Outra dessas vertentes, e o foco principal desta reflexão, eram os coachs de sedução. Esses tais treinadores buscavam apresentar técnicas e conselhos para a sedução de garotas. Teorizavam que o objetivo masculino era ser um garanhão, um "pegador," relacionar-se sem, contudo, depender de relacionamentos. O objetivo deles era viver a imagem da revista Playboy, aquele que quer curtir garotas e nada mais, uma vaginolatria que, ao invés de babar atrás de garotas, mantém a mesma obsessão, mas as tratando com desprezo, ou, como é dito, "como lixo." O que para alguns era idolatria ao romance, para esses é idolatria ao número, ao ato em si, destacada de uma pessoa específica.

Na ânsia de evitar a imagem do homem feminista, frágil, que idolatra e "baba ovo" para mulheres, priorizaram um homem que não valoriza, que se preocupa apenas com sua cerveja, transa e vai embora. Um grande número de "fracassados" obviamente gostou disso, afinal, o pecado se manifesta em qualquer um dos dois extremos (seja no excesso de atenção a sentimentos femininos ou na falta dela), e é atraente aos homens agir conforme seus impulsos primitivos. Rapazes que não tinham boas habilidades sociais agora supunham ser especialistas sexuais, devido aos chavões que memorizavam.

No Brasil, essa é uma cultura que vai e volta, tendo outro exemplo na "modinha" dos anos 2010 chamada STRONDA, um ritmo de rap com funk que idolatrizava o colecionismo sexual, os vários relacionamentos de uma noite e a tal vaginolatria. Isso sempre atraiu os jovens, pois para o adolescente o sexo é algo excepcional, é tudo que pensam e buscam, devido à grande carga hormonal e ao status social em seu grupo. O problema é que muitos não crescem, não amadurecem e continuam sempre buscando um sentido no colecionismo hedonista, dessa forma, nunca aprendendo a construir coisas concretas e maduras.

São formas de criarem uma autoimagem confiante, mesmo não sendo; uma maneira de afirmar que não são dependentes da opinião feminina, pois são "o cara" de si mesmos, que dominam sobre elas. Contudo, suas teorias e filosofias só são aplaudidas dentro do próprio grupo fechado. São aqueles famosos metidos a conquistador que aparecem em uma festa, com roupa extravagante, e ficam incomodando dezenas de garotas com cantadas prontas. Para eles, tudo bem tomar vários "foras," afinal, afirmam que não se importam com elas, que foram elas que perderam o garanhão ali. Se conseguirem a atenção, um beijo ou o telefone de duas coitadas, é a deixa para se afirmarem como os reis do camarote, para contar aos amigos que seduziram e deixaram mulheres loucas na festa.

Esse tipo de gente é simplesmente vazia, age dessa forma em busca de uma identidade e de um valor, mas tem pouco conteúdo. Eles não têm nada de real a oferecer, então basicamente vivem atrás dessa ilusão, fazendo mal a garotas desavisadas que podem ter imaginado estar lidando com alguém normal.

A busca por ser um "macho alfa," mesmo não o sendo, ou seja, pelas características erradas, mais fáceis, mais egoístas, pagando de herói sem seus sacrifícios, pagando de adulto sem as responsabilidades, é algo antigo na sociedade. Meu filho, que tem um ano, quando vê os pais colocando maionese em um salgado, pega o pote e finge estar colocando no lanche dele. Ele fica feliz com isso; para ele, não é necessário que seja real, ele quer apenas se enganar de que também colocou o molho, dando um sabor imaginário para a sua parte. É isso que esses rapazes fazem: eles gostam de brincar de ser machos alfa, gostam de se vestir de homem, gostam de recitar mantras de homem, mas no fundo, fogem disso diariamente. Talvez alguns, em essência, nunca souberam o que é ser homem de verdade.

Eu já joguei esse jogo, na minha vida de solteiro: o jogo da estética e dos símbolos, no qual você procura formas estéticas e posturas que passem significados visando causar a atração na garota. O problema é que eu não quero mais causar isso nas pessoas e não me importo mais com esse tipo de coisa.

Por que iríamos querer causar tesão nas pessoas, se o tesão faz com que pessoas façam coisas erradas e que não lhes trazem coisas boas? A troco de quê? Para que alguém deve buscar isso? Para ficar sempre tendo uma sensação? Para ficar sempre me divertindo com alguém enquanto acumulamos imoralidade sexual, pecado, e marcamos a vida de pessoas como se fossem objetos? Eu posso ter prazer em diversas outras coisas: posso comer um bom prato, jogar um jogo com os amigos, praticar um esporte, posso inclusive ter prazer sexual com alguém que amo. Por que iríamos ficar seduzindo pessoas por uma noite vazia apenas por diversão?


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