A frase "Não se porte como mulherzinha" é realmente ofensiva?

 


A frase "Não se porte como mulherzinha" é realmente ofensiva?


Sabe aquela frase que a gente ouve e repete sem pensar muito: “Para de agir como mulherzinha”? Geralmente, o costume é disparar essa expressão para homens que estão sendo covardes, medrosos ou que estão fugindo de uma responsabilidade. Aí vem a pergunta: será que isso não estaria depreciando a imagem da mulher? Afinal de contas, sabemos bem que uma mulher pode ser corajosa.

Mas a questão é que precisamos entender a figura de linguagem por trás disso, e a chave não está na mulher. A intenção dessa expressão é dizer que um homem está agindo de forma deslocada de como ele deveria ser, de como ele tem a capacidade natural de ser. Um homem agindo com covardia ou fragilidade excessiva é visto como negativo, não porque as mulheres sejam ruins ou inferiores, mas sim porque ele está divergente do que deveria e poderia ser. Ele, pela sua natureza, tem a capacidade e as ferramentas para não agir daquela forma. Pense no exemplo do adulto que está “agindo como criança”: não estamos dizendo que ser criança é ruim, mas sim que o adulto está deslocado de sua própria existência, de suas responsabilidades e de sua maturidade.

Para a mulher, por exemplo, é negativo ser covarde naquilo que ela deveria e poderia enfrentar, claro, mas não é absolutamente nada negativo ela temer, agir dengosamente, expor mais seus sentimentos ou até requerer proteção. Pelo contrário! As mulheres dão tanto aos homens e à humanidade com outras virtudes únicas, com sua força particular e capacidade de doação, que é totalmente aceitável e natural que elas apresentem características como sensibilidade ou a necessidade de amparo. Essas ações não são negativas para elas justamente porque estão de acordo com sua natureza. Elas não têm, por essência, uma natureza de corpos fortes e testosterona em alta como a dos homens, e essa é uma realidade biológica que molda expectativas. Você não classifica a atitude de uma criança como negativa ao agir conforme a sua idade, porque é exatamente aquilo que se espera dela. A questão é mais profunda: algumas ações só são negativas dependendo de onde vêm, ou seja, de quem as pratica. Você não diz que um computador é inferior a um liquidificador por não conseguir moer alimentos, já que essa não é a sua principal função. Da mesma forma, um homem não é inferior por não conseguir amamentar.

O erro que cometemos, então, é achar que todas as virtudes são exigidas de todas as pessoas da mesma forma. Não são. Existem virtudes dos homens, virtudes das mulheres, e virtudes das crianças, cada um com seus papéis, e isso é o que gera harmonia social. É honroso que um sexo pratique virtudes do outro, o que é sempre bem-vindo, mas não é necessário. Não se cobra de uma mulher que ela tenha a força física para proteger um homem em uma briga, entretanto, se alguém tem uma capacidade natural para algo, é necessário que aja de acordo com ela. Ser mais sensível, dengosa, e requisitar a proteção do homem é algo positivo para a mulher, não lhe é cobrado que seja diferente, mas para o homem que faz isso, podendo agir de outra forma, é visto como preguiça, desleixo e até vergonha.

Quando a gente diz “Seja homem agora e honre com sua promessa”, não estamos dizendo que mulheres não devem honrar a palavra nem que não sejam honestas, estamos dizendo que faz parte da essência e da natureza de um homem de verdade cumprir essas coisas, pois está dentro de suas capacidades e responsabilidades naturais. Quando eu digo “seja homem”, estou dizendo, na verdade, “seja aquilo que você deve ser”, assim como uma mulher pode dizer na mesma situação: “Sou mulher de verdade!”. Essas frases, portanto, não estão contrastando o homem com a mulher em geral, mas sim homens verdadeiros com falsos homens, com aqueles que agem como crianças, ou que fogem da sua natureza e potencial.

Em resumo, algumas falhas são negativas para ambos os sexos, mas quando cada um age conforme a própria natureza e potencial, há harmonia. Outras atitudes, como a fragilidade em momentos cruciais, são negativas apenas para um sexo se ele não age, podendo agir; mas para o outro sexo, não é negativo, é apenas uma característica que não é cobrada, mesmo que possa ser feita. Então, da próxima vez que você escutar alguém dizendo “Aja como homem”, pare e compreenda o que essa frase quer dizer: o objetivo é convocar a pessoa a “agir conforme aquilo que lhe é fácil fazer”. Seus hormônios e sua estrutura biológica já lhe propiciaram tudo o que é necessário para encarar exercícios de força e resistência, seja ela física ou emocional. O que se espera, então, é que você consiga facilmente agir desta forma, pois estará apenas utilizando as ferramentas que recebeu naturalmente. É o mesmo que dizer: “Vamos, isso é simples para você, é só querer!



palavras chave: figura de linguagem, papéis de gênero, virtudes femininas, virtudes masculinas, natureza humana, linguagem pejorativa, masculinidade, covardia.

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