Capítulo 6
Milagres, Ciência e Fé: Por que o Conflito é uma Ilusão?
Muitos acham absurdos os milagres bíblicos. A descrença começou com a filosofia iluminista, que afirma que narrativas milagrosas são contrárias ao pensamento racional. Assim, se a Bíblia contém relatos milagrosos, então, segundo essa lógica, ela não seria confiável.
Entretanto, isso é um erro filosófico grave.
Uma coisa é dizer que a ciência deve sempre buscar explicações naturais para seu objeto de estudo — afinal, seu método é construído para lidar com esse tipo de causa. Outra, completamente diferente, é afirmar que não existem outros tipos de causas.
É impossível provar a tese “é impossível a existência de uma causa sobrenatural para fenômenos naturais”. Ou seja, não podemos provar nem refutar essa ideia com dados científicos — trata-se de uma afirmação filosófica e de fé.
Esses pensadores simplesmente dizem: “Se não é possível, através do método científico, verificar causas sobrenaturais, então elas não existem.” Isso é uma bobagem circular. Eles afirmam que é impossível exercer ciência se acreditarmos em causas além de suas possibilidades.
É como um bêbado que insiste em procurar as chaves perdidas apenas debaixo do poste de luz: se a luz não chega até as partes escuras da rua, ele se recusa a crer que as chaves possam estar lá. Por ser difícil encontrá-las no escuro, ele afirma que elas obrigatoriamente devem estar onde há luz.
A realidade é que, se Deus existe, milagres são possíveis. A criação do universo já é, por si só, um grande milagre.
A ideia de um conflito entre ciência e fé foi alimentada pelos meios de comunicação, que por muito tempo divulgaram notícias como se essa tensão fosse absoluta. Nem mesmo a teoria da evolução é, necessariamente, antagônica à fé cristã. Alguns cristãos a veem como um processo usado por Deus, sem que isso implique no naturalismo filosófico, que afirma que tudo provém exclusivamente de causas naturais — uma confusão bastante comum.
Richard Dawkins, por exemplo, defende que, se você acredita no evolucionismo como mecânica, precisa crer no naturalismo. Isso é uma grande bobagem, pois cientistas renomados, como Francis Collins, pensam de forma totalmente diferente.
Como afirma Christian Smith, o antagonismo entre fé e ciência foi exagerado por cientistas e líderes educacionais do século XIX. O objetivo era enfraquecer o controle da igreja sobre universidades e instituições, ampliando sua própria influência social.
Ateus como Dawkins são desonestos em suas abordagens. Certa vez, ele afirmou que apenas 7% da Academia de Ciências acredita em Deus, sugerindo que pessoas racionais não creem em Deus. No entanto, a pergunta da pesquisa era: “Você crê em um Deus pessoal?”, o que exclui grande parte das religiões mundiais — muçulmanos, budistas, hindus, entre outras.
Além disso, Dawkins assume apressadamente uma ligação entre ser cientista e não ter fé, algo que a pesquisa não demonstra. Como sabemos que esses cientistas não creem por causa da ciência? E os outros fatores? A comunidade científica é muito mais ampla que a pequena elite acadêmica atual. Grandes cientistas do passado são ignorados, representando apenas o zeitgeist da academia contemporânea.
Alister McGrath mostra, em seus escritos, que muitos desses ateus levaram seu ateísmo para a academia, e não se tornaram ateus por causa da ciência — suas razões foram outras.
Existem muitos cientistas cristãos, e seu número vem crescendo, como mostra a história. As divergências entre evolucionismo, criacionismo, criacionismo da terra jovem e outras visões surgem de interpretações diferentes de partes chave de Gênesis.
Por exemplo: quando lemos Salmos, entendemos como poesia. Quando lemos Lucas, tratamos como relato histórico — porque o estilo literário é claro. Mas, ao falarmos de Gênesis, há dificuldade em identificar com precisão a intenção literária do autor, o que gera debates.
Quando a teoria da evolução ganhou força no século XIX, a resposta imediata dos protestantes não foi o criacionismo literalista. Pelo contrário, muitos aceitaram a ideia de que a fé e a evolução poderiam conviver, considerando a possibilidade de que Gênesis não fosse literal. O criacionismo como proposta científica surgiu apenas depois, com base em descobertas e reflexões posteriores.
Mas o cético que busca respostas não precisa se preocupar com essas divergências no início. Seu foco deve estar nos pontos principais da fé cristã, e só depois, com mais profundidade, estudar os debates literários e teológicos.
Tim Keller acredita que, se a evolução se tornar uma cosmovisão — ou seja, uma lente para enxergar toda a realidade: vida, história, sociologia, etc. —, isso entra em conflito direto com o cristianismo. Entretanto, se evitada como dogma e tratada como uma hipótese não testável biologicamente, ela poderia ser compatível com a fé cristã. (Algo com o qual eu, Paulo, discordo.)
Concluindo
É difícil acreditar em milagres, e isso é perfeitamente compreensível. Os próprios apóstolos tiveram momentos de ceticismo, o que mostra que devemos ter paciência com quem duvida. Alguns dos maiores nomes da fé cristã foram céticos no início.
Isso também derruba a ideia de que os povos antigos acreditavam em qualquer coisa e que nós, modernos, somos mais críticos. Muito pelo contrário: eles reagiam como qualquer pessoa hoje reagiria.
Os milagres bíblicos tinham o propósito de mostrar a ação de Deus, e não eram mágicas para impressionar. Uma de suas “leis” era fortalecer a fé, alimentar os pobres, curar os enfermos.
Ou seja, não se tratava de suspender a ordem natural, mas de restaurá-la ao que deveria ser.
Milagres não são um desafio para a nossa mente — são uma promessa para o nosso ser. Eles apontam para aquilo que Cristo fará, para aquilo que a Criação deveria ser, mostrando que os nossos desejos mais profundos — o fim da fome, da dor, da morte — serão realizados. E eles ocorrerão.
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