Fé na Era do Ceticismo - Capítulo 8 – Pistas de Deus: A Sintonia do Universo

 


Capítulo 8 – Pistas de Deus: A Sintonia do Universo e o Blefe do Acaso


Muitas pessoas vivem inquietas diante das pistas de Deus, mas se apegam à ideia de que apenas uma prova irrefutável justificaria a fé. Esse desejo por certeza absoluta, no entanto, ignora uma realidade: até mesmo nossas crenças mais fundamentais se baseiam em confiança, não em provas absolutas. A ciência, por exemplo, depende do “racionalismo forte” — uma visão que, ao ser examinada, revela suas próprias limitações. É necessário confiar em perspectivas mesmo sem evidências empíricas completas. Isso é parte da condição humana.

Uma das evidências mais intrigantes a favor de um Criador é o chamado ajuste fino do universo. A ciência já identificou que a vida só é possível porque diversas constantes físicas — como a gravidade, a velocidade da luz, entre outras — possuem valores incrivelmente precisos. Se uma dessas variáveis fosse minimamente diferente, não existiriam planetas, estrelas ou qualquer forma de vida. São cerca de 15 constantes exatas que, se alteradas, tornariam a vida impossível. A probabilidade disso ter ocorrido por acaso é ínfima. Esse fenômeno é conhecido também como princípio antrópico: o universo parece ter sido preparado para nós.

Richard Dawkins, buscando uma explicação naturalista, propôs a hipótese de que existiriam trilhões de universos. Se há tantos, diz ele, seria esperado que ao menos um apresentasse os ajustes necessários. Contudo, essa teoria carece de qualquer indício ou teste observável — é uma especulação. O ajuste fino, por outro lado, é verificável, mensurável e está diante de todos. Usar multiversos para escapar do ajuste fino é como alegar, em uma mesa de pôquer, que o homem que tirou dez vezes seguidas uma mão com quatro ases não trapaceou, apenas teve sorte num universo entre trilhões. É possível? Talvez. É provável? Definitivamente não. Ignorar isso seria desonesto.

Além disso, todo o raciocínio científico se apoia na regularidade da natureza — a crença de que as leis físicas funcionarão amanhã como funcionaram hoje. Esperamos que a água ferva sempre na mesma temperatura ou que ligações químicas ocorram da mesma forma. Essa confiança, chamada raciocínio indutivo, não pode ser provada pela ciência — apenas assumida. Filósofos como Hume e Bertrand Russell se inquietaram com isso, pois não conseguimos sequer justificar por que a natureza é regular. Aceitamos por fé.

Curiosamente, estudiosos contemporâneos argumentam que essa confiança só foi possível graças à cosmovisão cristã. A crença em um Deus racional e pessoal sustentava a expectativa de um universo ordenado e confiável. Produtos do acaso, por definição, seriam caóticos e imprevisíveis.

O filósofo Leonard Bernstein afirmou: se Deus não existe e somos apenas um amontoado de átomos moldados pelo acaso, então o que chamamos de beleza, amor e significado são apenas ilusões bioquímicas. A música, a arte, o amor — tudo isso seria apenas resultado de descargas neurológicas que ajudaram nossos ancestrais a se reproduzirem. Mas será mesmo que o belo é só uma ilusão útil? Não estaríamos ignorando algo mais profundo?

Agostinho, em suas Confissões, apontou que nossos desejos mais profundos, sempre insaciáveis, são pistas da existência de Deus. Sentimos fome porque existe comida, temos sede porque existe água — então, por que teríamos sede do transcendente se nada pudesse saciá-la? Nossas aspirações por algo além do mundo físico apontam, ainda que de forma sutil, para uma realidade maior. Como disse N. T. Wright, a busca pelo belo talvez seja uma lembrança — um eco — de como o mundo era ou deveria ser.

Naturalistas tentam responder a isso com a seleção natural, afirmando que o desejo por religiosidade e beleza são apenas características que aumentaram nossas chances de sobrevivência no passado. Essa teoria ficou conhecida como o “exterminador de pistas”. Mas ela contém um problema interno devastador: se a evolução molda apenas crenças que ajudam a sobreviver — e não necessariamente as verdadeiras —, como podemos confiar em nossas faculdades racionais para afirmar qualquer coisa, inclusive a própria teoria da evolução?

Dawkins reconhece que nossos genes se importam com adaptação, não com verdade. Assim, ao admitir que nossas crenças sobre Deus podem ser ilusões úteis, os naturalistas cavam sua própria armadilha: por que confiar em qualquer crença, inclusive na ciência evolucionista? Se nossa mente evoluiu apenas para sobreviver, por que ela seria confiável para entender a realidade? O argumento que tenta eliminar as pistas de Deus, na verdade, elimina também a razão — e isso mina a própria ciência.

O próprio Darwin expressou essa preocupação ao admitir a dúvida perturbadora sobre a confiabilidade de convicções produzidas por uma mente vinda de animais inferiores. Se o naturalismo for verdadeiro, não podemos confiar nem mesmo nos métodos que usamos para chegar a essa conclusão. Os naturalistas querem exaltar a razão ao mesmo tempo em que a destroem — querem manter o bisturi da crítica afiado para cortar Deus da equação, mas se recusam a aplicá-lo à própria teoria.

O conflito real não é entre fé e ciência, mas entre fé e naturalismo. Somente a crença em um Deus racional torna possível crer que nossa mente tem acesso confiável à verdade. Só essa visão explica por que o universo é compreensível, por que existe regularidade, por que temos sede de transcendência e por que o mundo parece ajustado para a vida.

Mesmo que alguém continue não crendo em Deus, é impossível viver como se fôssemos apenas o resultado do acaso. Quem ama, sofre, canta ou se comove diante da beleza está agindo como se a vida tivesse significado — como se o amor não fosse apenas um truque genético, mas algo real. Podemos negar Deus com nossas palavras, mas não com a nossa existência. Usamos a lógica, a linguagem, a moral e a busca por sentido todos os dias — e todas essas coisas apontam para algo maior.

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